Os recursos ao esporte devem cair bastante em 2017, tanto do governo como de patrocinadores, depois de alguns anos de injeção de dinheiro acima da média por conta dos Jogos Olímpicos. Mas não é só isso que tornará o ano difícil.
A crise tira rapidamente também dinheiro de práticas esportivas mais badaladas no Brasil, como o vôlei. Será um ano duro de adaptação à nova realidade onde até o futebol deve ser atingido, principalmente para clubes fora da elite.
A estrutura técnica montada para dar suporte aos atletas brasileiros para a Rio 2016 tem sido desmontada rapidamente. Não se sabe como se manterá o legado do Parque Olímpico, já que nem o Comitê Olímpico Brasileiro nem o governo têm recursos para isso – e nenhuma empresa quer assumir o local.
Há escândalos de todo tipo em várias confederações nacionais, como a de basquete (suspensa pela federação internacional), desportos aquáticos, tênis e taekwondo. Há expectativa que a Lava-Jato ainda atinja pessoas ligadas ao futebol.
O Brasil não resolveu como tornará os estádios construídos para a Copa do Mundo autossustentáveis. A indefinição sobre o Maracanã promete ser uma longa novela, e as arenas construídas em Estados onde inexistem clubes de expressão devem sentir fortemente dificuldade de manutenção por conta da baixa arrecadação pública.
A falta de planejamento é um dos grandes motivadores do problema. Nunca houve no País uma política para o esporte. Tudo foi feito de forma casuística. Essa, aliás, foi a grande crítica dos opositores da realização do Mundial de futebol e da Olimpíada no Brasil.
Quando se fala em política para o esporte, trata-se de ações conjuntas envolvendo agentes na democratização, cooperação, inclusão e intercâmbio para o desenvolvimento das variadas práticas esportivas. Isso nunca houve no País de forma integrada, apenas alguns projetos isolados envolvendo ONGs, entidades, agremiações e o poder público.
O futebol brasileiro, que poderia ser o construtor desse padrão de universalização e organização do esporte no País, faz tempo que se tornou um ente separado e descolado do desenvolvimento do desporto no País. Manteve-se por conveniência como uma célula isolada e independente, como se ele não tivesse papel algum na definição de uma política comum de evolução esportiva, tirando alguns esforços de alguns clubes historicamente envolvidos com a causa.
Não se sabe bem agora como juntar os cacos. Imagina-se que a transparência seja um dos princípios necessários, mas há outros fatores. Um deles é a construção de talentos esportivos fora do acaso, com programas permanentes e sólidos. Além do rodízio de dirigentes no comando das diversas modalidades esportes, com renovação de ideias e propostas. Há também a necessidade de rejuvenescimento da área, questão já detectada pelo Comitê Olímpico Internacional. Mas e os recursos?
Enquanto não se criar consensos em torno desses temas, se verá as velhas e ultrapassadas práticas se sobrepondo à realidade.