Desde que o futebol tomou conta da vida de grande parte dos seis bilhões e cacetadas de sujeitos desse imenso planeta bola que se discute a questão da arbitragem. Não raro o árbitro é o vilão preferido dos torcedores, que sempre entendem que o seu time do coração foi garfado.
A questão, para falar a verdade, é maior do que pode imaginar a nossa vã filosofia (segundo consta nos compêndios, Shakespeare um dia falou isso aí). E ela vai mesmo além dos grandes clássicos, aqueles em que a televisão dispõe em vários ângulos o olhar devassador das suas câmeras.
Na mais insignificante pelada de rua, o camarada escolhido para ser árbitro já deve entrar no gramado (metaforicamente falando, que eu sei que na rua não tem grama) preparado para ser chamado de ladrão, filho dessa e daquela outra. Se não estiver preparado, é melhor não aceitar a tal tarefa.
Da mais remota região do Azerbaijão até os barrancos do rio Acre, em época de pouca água, na mesma proporção que o roçar das asas de uma borboleta pode causar um furacão, igualmente a má atuação de um árbitro de futebol pode causar um cataclismo fratricida. Um perigo para a vida!
A relação entre árbitros, jogadores e torcedores é tão frágil que existem histórias várias de profissionais desse ofício que costumam tomar precauções extras antes de entrar em campo. Precauções meio que bizarras, mas plenamente justificadas ante a iminência de alguma ameaça física.
Os antigos árbitros acreanos, ambos falecidos, José Ribamar Pinheiro de Almeida e Adalberto Pereira, segundo a lenda, estavam na lista dos que tomavam essas precauções, digamos, pouco ortodoxas. Ribamar dizia que era lutador de jiu-jitsu. Adalberto apitava com uma “peixeira” na cintura.
Quando entrevistei José Ribamar pela última vez, em novembro de 2015, ele me disse que era “a turma que espalhava” que ele era faixa preta de jiu-jitsu. Mas garantiu que esse boato o salvou mais de uma vez de ser agredido. “Os caras pensavam duas vezes antes de me encarar”, afirmou.
Quanto ao Adalberto Pereira, craque da arbitragem acreana na década de 1960, dizem que quando ele sentia que algum engraçadinho o estava olhando de forma atravessada, ele só levantava a camisa do uniforme e mostrava o cabo da faca. O gesto era como água fria na fervura.
Mas eu só lembrei-me dessas histórias porque li nas folhas por aí que a FIFA também está preocupada com a arbitragem. Tanto que instituiu o auxílio eletrônico na Copa das Confederações deste ano. É a última tentativa. Se não der certo, talvez se retome o uso do jiu-jitsu e da peixeira!