Se cada time tivesse para si um céu da cor da própria camisa, a abóbada celeste sobre a cabeça do Atlético Acreano seria sempre azul. Um azul daqueles de doer na vista de quantos se prestassem a mirá-lo. Um azul daqueles de fazer a gente chamá-lo de “brigadeiro” e de nos sugerir voar.
Na vida real, porém, nenhum céu permanece infinitamente azul. As estações se sucedem e, eis que, “de repente, não mais que de repente”, como se num verso copiado de um poema de Vinícius de Morais, o céu que era azul adquire contornos de pesadas nuvens, de um cinzento ameaçador.
Com três vitórias nas primeiras rodadas da série D, o céu do Atlético era um convite a uma aventura para qualquer Ícaro moderno. Numa época em que não se usa mais cera para pregar as asas ao corpo pesadão, nem uma eventual proximidade do sol serviria para inibir um subir às alturas.
Aí veio aquele jogo lá de Ariquemes, na quarta rodada. Como o desempenho do Real Ariquemes era pífio até então, ninguém duvidava que o Galo acreano fosse chegar aos 12 pontos. O empate fora de qualquer plano, entretanto, tratou de avisar que o negócio estava bem mais em baixo.
O céu perdeu um tantinho do brilho anterior, mas nada que pudesse sinalizar alguma trovoada. Afinal, quatro pontos separavam o Atlético dos perseguidores mais próximos. Um pontinho que fosse conquistado contra o adversário seguinte, o Princesa do Solimões, em Manacapuru, já servia.
Eis que, no entanto, a exemplo daqueles roteiros tão ao gosto dos antigos dramaturgos gregos, o Atlético sofreu a sua primeira derrota. Aquele pontinho necessário foi deixado para trás. Nuvens insanas tingiram o céu de uma cor escura. E os surubins começaram os ensaios para o choro.
Pra falar a verdade, não creio que esse surubim chorão lá de Manacapuru vá se criar em cima do Atlético. O céu já não está daquele azul brilhante para o lado do Galo, mas também ainda não existe aquela certeza absoluta de que uma torrente de água vá despencar até o próximo domingo.
O céu nesse momento não é de brigadeiro, mas o Atlético só depende das próprias forças para passar à próxima fase. Um simples empate contra o Trem, no Florestão, garante a classificação. E uma vitória o coloca na liderança do seu grupo. Menos mal. Basta que o time jogue bem. Só isso!
Que o Galo possa fazer o céu sobre a sua cabeça voltar a ser tão azul quanto a cor da sua camisa. Bola pra isso o time tem. Concentração e foco. Isso é tudo o que o time precisa. O Trem amapaense é forte, mas eu acho que está bem longe de ser “bala”. Então, dá sim para segurá-lo na estação!