Dependendo da circunstância, a distância entre o céu e o inferno pode ser percorrida num piscar de olhos. Em certo instante, o sujeito pode estar em um desses lugares e então, milésimos de segundos depois, como se por um passe de mágica, se perceber lá no outro, diametralmente oposto.
A vida está cheia de exemplos nesse sentido. Ou não seria essa a sensação desses poderosos da república brasileira que enriquecem os bolsos sem maior dispêndio de energia que não seja a falcatrua e, de uma hora para outra, se veem torturando o corpo rotundo na dureza de um xilindró?
No que diz respeito ao futebol, que é o que de fato nos interessa aqui nesse minifúndio destinado às minhas elucubrações rotineiras, essa distância entre inferno e céu, luz e trevas, Jeová e Lúcifer, êxtase e angústia, pode ser percorrida em noventa minutos. Meros noventa minutos!
Do ponto de vista do time que está em vantagem, aquele que precisa segurar um resultado cuja construção vem de um momento anterior, esses noventa minutos parecem um século. O cronômetro, preguiçoso, dá a impressão que desdobra as linhas do tempo e o estica até o inalcançável.
A equipe, porém, que precisa fazer o resultado, aquela que entra no jogo em desvantagem, precisando marcar um determinado número de gols, para essa o tempo é fugidio e dispara como um raio dentro daquela noite veloz cantada um dia pelo falecido escritor maranhense Ferreira Gullar.
O passar do tempo e a distância entre o céu e o inferno vão ter essas configurações que eu falei nos parágrafos anteriores para Rio Branco e Maranhão neste domingo (16 de julho). Noventa minutos arrastados para o Maranhão e o mesmo tempo em extrema velocidade para o Rio Branco.
Os dois a zero que foram aplicados pelo Maranhão no jogo da ida, domingo passado, fazem os maranhenses buscarem nos compêndios algum tipo de alquimia que faça o tempo acelerar a sua passagem. Talvez uma palavra, talvez um gesto… Qualquer coisa que os levem ao salto quântico.
Na mesma proporção, mas invertendo-se o placar, que é o ponto de vista dos acreanos, a turma do Rio Branco procura sofregamente algum tipo de conexão com os preceitos formulados por Albert Einstein, de forma que esses noventa minutos que se avizinham possam seguir como jabutis.
O que vai acontecer, eu não sei. Só sei que tempo e distância são diferentes para cada lado de uma disputa futebolística. As indagações e as perplexidades ardem em fogo perpétuo nos movimentos de uma bola. Uns poucos eleitos subirão ao paraíso… Os demais voltam no próximo ano.