Aposentado dos gramados há quase duas décadas, Sebastião Araújo reside hoje no condomínio Atlântico Sul, na cidade do Rio de Janeiro. Foto/Gilberto Saavedra.

Sebastião Araújo: o goleiro do futebol acreano que treinou o Fluminense-RJ e cinco seleções mundiais

MANOEL FAÇANHA

No início da noite da última terça-feira (17), o meu telefone residencial tocou. O meu filho Gabriel Façanha, achando que era a avó paterna dele, atendeu. Do outro lado da linha, um senhor querendo falar comigo. Pois bem. Peguei o telefone e do outro lado da linha uma voz cansada se identificou: “Sou eu, Sebastião Araújo. Tudo bem?” Respondi sim e o senhor? “Tudo certo. Peguei o número do seu telefone com o Gilberto Saavedra [radialista acreano hoje residindo no Rio de Janeiro]. Estou ligando para agradecer o livro Personagens do Futebol Acreano, a edição da revista da Federação de Futebol do Acre, assim como a comenda Campos Pereira que gentilmente você enviou a mim”, disse ele.

QUEM É SEBASTIÃO ARAÚJO

Em 1959, Campos Pereira, Tião Araújo e João Carneiro posam para fotografia antes de mais uma partida do Estrelão. Foto/Acervo Manoel Façanha.

Para quem não conhece o personagem, trata-se da figura do ex-goleiro Tião Macaco, hoje com 79 anos e residindo no Rio de Janeiro. Nascido no Pará, mas criado no Acre, a vida futebolística desse personagem começou a brilhar aos 17 anos (1956), quando assumiu o gol do Atlético Acreano. Um ano depois, ele transferiu-se para o Independência e, logo depois, para o Rio Branco, disputando duas temporadas (1959/1960). No ano de 1961, a convite de Walter Félix de Souza (Té), resolveu ir estudar no Rio de Janeiro, onde conseguiu duas graduações, uma na Escola Nacional de Educação Física (1964) e outra na Escola Nacional de Pedagogia (1969).

CARREIRA FORA DO ACRE

Como atleta, Sebastião Araújo ainda defendeu as cores da Portuguesa (RJ), clube pelo qual iniciou a carreira de preparador físico, em 1963. Três anos depois, transferiu-se para o Fluminense, onde, inicialmente, trabalhou na base do clube das Laranjeiras, mas logo depois foi promovido para o time de profissionais.

Estudioso, em 1973 foi convidado pela federação alemã de futebol para uma espécie de intercâmbio com autoridades esportivas no terreno especifico dos treinamentos técnicos. O bom trabalho, a inteligência e a conduta profissional foram suficientes para levá-lo ao cargo de preparador físico da Seleção Brasileira nas Olimpíadas de Montreal, Canadá (1976), quando o Brasil garantiu a quarta colocação, com a Polônia, do atacante Lato, conquistando a medalha de ouro. Neste mesmo ano, Tião Araújo lançou o livro: “O Futebol e seus Fundamentos”. Mas o melhor ainda estava por vir em sua brilhante trajetória pelo mundo futebolístico. A convite do revolucionário técnico da época Oswaldo Brandão, Sebastião Araújo assumiu o posto de preparador físico da seleção principal do país durante as eliminatórias da Copa da Argentina. E nem mesmo a prematura saída de Oswaldo Brandão do cargo chegou a balançar sua permanência na equipe brasileira.

COPA DA ARGENTINA E FLUMINENSE-RJ

Com a classificação para o Mundial de 1978, Tião Araújo, ao lado de Claudio Coutinho, foi peça importante para o Brasil garantir o invicto terceiro lugar da Copa da Argentina. Um ano depois, após mais de uma década trabalhando nas categorias de base do Fluminense ao lado do amigo e ex-zagueiro do clube Pinheiro, Sebastião Araújo assumiu o cargo de treinador do time principal.

Mesmo com um time de garotos, o endividado tricolor – uma herança da administração de Francisco Horta -, embalou e, ao lado do Flamengo, de Claudio Coutinho e Zico, eram os favoritos a levantar o Estadual de 1979.

No primeiro tira-teima (Fla-Flu), por sinal de casa cheia, em um Maracanã colorido, prevaleceu a vitória tricolor por 3 a 0 e ainda a desistência dos árabes do Catar em levar Cláudio Coutinho na bagagem, optando, de última hora, pelo trabalho de Tião Araújo, que além de treinar a seleção do Catar, esteve à frente das seleções da Arábia Saudita, Hong Kong, Bahrain e Trinidad e Tobago, totalizando mais de 18 anos fora do país, tendo ainda o título de propulsor dos treinadores brasileiros em território árabe.

Aposentado dos gramados há quase duas décadas, Sebastião Araújo reside hoje no condomínio Atlântico Sul, na cidade do Rio de Janeiro, ao lado da esposa Maria do Socorro Barros Moura.

E-mail de agradecimento

Caro Manoel Façanha!

Recebi a correspondência que você enviou para nosso amigo Saavedra. Foi ele que me deu o seu endereço de e-mail e o seu telefone. Você me fez recordar momentos marcantes da minha juventude em Rio Branco.

1 – A medalha em homenagem ao Campos Pereira (tem o meu nome), coloquei em um lugar de destaque no quadro de medalhas. Jogamos no Rio Branco F.C., eu goleiro e ele zagueiro.

2 – O diploma do Concurso “O melhor Radialista do Rádio Acreano de todos os tempos” em homenagem ao Natal Barbosa de Brito (enviado por Saavedra). Em 1960, ano que vim estudar no Rio de Janeiro, eu era gerente da Rádio Difusora que tinha três locutores, Índio do Brasil, Natal de Brito e o outro não recordo o nome (moreno, baixinho e voz grossa). Lembro-me do companheiro de trabalho (Natal de Brito) lendo as “Mensagens para Você” – Atenção, atenção seringal Campinas, Juliano informa que retorna amanhã levando as encomendas… É muita recordação meu caro Façanha…

3 – O livro “Personagens do Futebol Acreano” muito bem escrito por você, Francisco Dandão e Augusto Diniz. Tem uma foto minha e uma reportagem, quando estive em Rio Branco (2003). Li o livro, vi e recordei vários companheiros do nosso Futebol.

4 – A Revista, com o Atlético campeão depois de 25 anos… Joguei nesse clube, quando o Dr. Augusto Hidalgo de Lima era Presidente. Hoje, sou casado com Maria do Socorro Barros Moura, sobrinha e criada na casa do Dr. Augusto, na Gameleira – Segundo Distrito. Conheci minha esposa no Rio de Janeiro.

Viu só quantas recordações? Obrigado, mais uma vez, meu caro Manoel Façanha.

Abraços do Sebastião Araujo

fac-símile da página de esporte do Jornal Opinião desta quinta-feira (19/10)