Mercado da bola

Desde que o capitalismo se tornou ideologia dominante, a partir, principalmente, de 1989, com a queda do muro de Berlim, suprimindo das agendas políticas, sociais e econômicas a trilha do socialismo, pode-se dizer que o “deus mercado” passou a ditar as regras da vida de todo mundo.

A totalidade de bens, seja de serviço, produção, ou coisa que o valha, passa pelo mercado. Ou então, dizendo de outra forma, tudo (os mais radicais dizem que até as consciências, os mandatos e as medidas provisórias) está à disposição para compra e venda de quem puder pagar.

Da “rebimboca da parafuseta” ao “rifle de caçar rolinha” (digo, “bife de caçarolinha”), tudo está por aí em algum canto perdido (ou achado), seja na internet ou nos camelódromos da vida, espreitando os bolsos dos paturebas (meus inclusive), para fazer o dinheiro circular, girar feito pião.

O assunto me ocorreu por conta das notícias sobre futebol que aparecem na mídia sempre que um ano está se aproximando do seu final e outro começa a dar as caras nas esquinas do tempo. Notícias essas dos jogadores, treinadores e preparadores que estão disponiveis no “mercado”.

O que acontece é que, por uma limitação de ofertas de trabalho em relação à mão de obra à disposição, sempre existe mais criaturas em busca de um lugar ao sol do que o número de vagas a preencher. E então, acontece de muita gente ficar esperando um convite que teima em demorar a surgir.

E veja-se que essa situação independe do desempenho anterior. Tanto faz se o profissional em questão fez ou não uma ótima temporada. Um jogador que não foi bem numa determinada temporada pode não demorar a encontrar emprego. E outro que brilhou pode custar a achar a sua vaguinha.

No momento em que escrevo, por exemplo, leio nos sites que o zagueiro Diego e o atacante Eduardo, que vestiram a camisa do Atlético-AC este ano, até agora não foram procurados para assinar contrato para 2018. E veja-se que eles foram determinantes para a ascensão do clube à série C.

O ótimo zagueiro Diego e o artilheiro Eduardo estão, por conseguinte, no dizer dos economistas e teóricos pós-modernos, “no mercado”. Não são “mercadoria”, mas estão no “mercado”. O dirigente que chegar com uma graninha na mão, se habilita a comprar o serviço dos dois por alguns meses.

Sim, antes que eu esqueça, quem também está solto no “mercado” é o técnico Marcelo Altino, o mago, o homem dos patuás, o cara que comandou o Rio Branco na conquista da primeira Copa Norte, em 1997, com uma vitória sobre o Clube do Remo, em Belém. Às compras, senhores cartolas!