Andei papeando por esses dias com o ex-narrador esportivo Joaquim Ferreira do Nascimento. Ficamos um bom par de horas na varanda da sua aprazível residência recordando o seu tempo de cronista e a trajetória dele como jogador de futebol, num período que perdurou por mais de vinte anos.
A carreira de narrador do dito cujo começou numa emergência, no já distante ano de 1967. É que o titular das narrações esportivas da Rádio Difusora Acreana, Etevaldo Gouveia, ficou afônico justamente no dia de um amistoso interestadual. Aí a direção da emissora foi convidar o Joaquim.
O tal amistoso interestadual reunia nada menos do que o Flamengo, do Rio de Janeiro, que fazia uma excursão pelo Norte do país, e o Juventus, fundado um ano antes mas já com ares de potência local. Joaquim Ferreira, juventino desde sempre, foi lá e deu conta do recado com o maior brilho.
Daí pra frente, até 1988, último ano do amadorismo no futebol acreano, Joaquim Ferreira participou de milhares de horas de transmissões esportivas, gritando gol a plenos pulmões quando se tratava da artilharia do Juventus, e sussurrando o mesmo gol quando marcado pelos times inimigos.
E não foram apenas transmissões domésticas, não senhor. Joaquim se orgulha de ter narrado jogos nos maiores estádios do país, hora da seleção brasileira, hora de finais de campeonatos nacionais. Casos, relatou ele, dos estádios Serra Dourada (GO), Maracanã (RJ), Pacaembu e Morumbi (SP).
A militância esportiva, porém, começou antes do empunhar dos microfones. No início da década de 1960, Joaquim foi zagueiro no time juvenil do Atlético Acreano e, posteriormente, também no time principal do Grêmio Atlético Sampaio, pelo qual se sagrou campeão estadual em 1967.
Quem o viu em campo (fato confirmado pelo próprio) diz que ele era um zagueiro linha dura. Esse “linha dura”, naturalmente, é apenas uma forma metafórica de dizer que o zagueirão chutava qualquer coisa que passasse pela sua frente, tanto faz se a bola ou as canelas dos adversários…
Mas também, justiça seja feita, havia tanta gente que jogava uma bola tão redondinha no Grêmio Atlético Sampaio (Ailton, Viana, Hélio Fiesca, Chico Alab, Babá, Amílcar, Zé Melo, Aldo, Bebé…) que precisava mesmo existir na equipe um “xerife”, na retaguarda, para impor o devido respeito!
Joaquim Ferreira, natural de Brasiléia (assim como a criatura que assina esta crônica), é uma dessas lendas vivas do jornalismo esportivo regional. Aposentado dos microfones e dos gramados, não se furta jamais a uma boa prosa sobre os tempos românticos do futebol acreano. Um ícone!