Dois anos e meio depois dos Estados Unidos tornarem público que faziam investigação de crimes cometidos pela FIFA, os envolvidos começaram a ser ouvidos pela Justiça daquele país. Como se esperava, sobraram denúncias – lembro que nos EUA falso testemunho é algo gravíssimo e é preciso apresentar provas; portanto, é muito provável que os delatores estejam muito bem calçados.
Lá atrás já se sabia que tratava-se de uma rede criminosa sofisticada, com empresas abertas em paraísos fiscais e recursos vultosos circulando em bancos internacionais. O suborno rolava solto, principalmente na compra de direitos de imagem de jogos nos diversos torneios.
A questão é que o Brasil é o epicentro dessa possível roubalheira, usando a seleção como principal instrumento de enriquecimento e benefício. O problema é de uma capilaridade tamanha, que há pelo menos mais dois países importantes investigando o caso além dos Estados Unidos: a Suíça e a Espanha.
No Brasil, por enquanto, segue a inércia da Justiça em entrar no caso – a conivência é antiga com a CBF e seus parceiros, desde que os primeiros escândalos surgiram no final dos anos 1990. Só mesmo interesses fortes movem tanta falta de iniciativa de entender o que se passa nos submundo do futebol brasileiro.
Os casos mais explícitos de prováveis desvios (por enquanto) se centram nas entidades (FIFA, Conmebol e CBF) e suas relações com a Globo na compra de direitos de TV, desde competições no Brasil até as diversas edições da Copa do Mundo. É o fim do mundo que a maior emissora de televisão do País esteja envolvida em pagamento de suborno em milhões de dólares para manter o poder de transmitir a seleção – e, ao que parece, o controle do calendário do futebol brasileiro em detrimento dos interesses de clubes e torcedores.
O pior é que logo que estourou o caso FIFA, a Globo e a CBF correram para tentar dar um pouco mais de transparência aos seus atos. A emissora demitiu o seu executivo para negócios do futebol, o Marcelo Campos Pinto; e também mudou o horário dos jogos do meio de semana para mais cedo, uma crítica constante e exemplo vivo do controle que mantém da agenda do futebol.
A CBF tratou de mostrar que estava cuidando da boa governança e que na próxima licitação de direitos de transmissão dos jogos da seleção se esforçaria para terminar o monopólio nesse campo, já que isso gerava suspeitas indiscutíveis.
Não é que há poucos dias a CBF anunciou a Globo como vencedora da licitação de partidas da seleção até 2022 oferecendo o valor mais alto. Tudo bem, a empresa fez sua oferta, está no seu papel. Mas não seria o caso, dessa vez, da confederação ter mostrado disposição em abrir outras frentes na mídia, para evitar especulações – ainda que isso lhe acarretasse menos dinheiro em caixa.
Mas preferiu manter os vínculos exclusivos. Pior: a consultoria à CBF na venda recente dos direitos, segundo consta na imprensa, foi dada por Marcelo Campos Pinto, ex-Globo e delatado nos EUA como operador do esquema de corrupção. Só mesmo no Brasil.