O dinheiro no tempo do amadorismo

Embora o futebol acreano seja profissional desde 1989, até hoje existe quem defenda o regime amador. De acordo com esses defensores, a decadência local do referido esporte começou com a passagem para o novo estatuto, uma vez que os encargos salariais oneraram demais os clubes.

No meu entender, essa é uma meia verdade. De fato, os clubes nos dias que correm tem muito mais encargos e responsabilidades do que tinham na época do amadorismo. Mas, a pergunta que se faz é a seguinte: se o futebol acreano ainda fosse amador, os times locais jogariam mesmo contra quem?

Respondo eu: só jogariam entre si, salvo em raríssimas oportunidades, quando times de outros estados aparecessem no Acre para amistosos caça-níqueis, ou quando os dirigentes organizassem torneios regionais, como foi o caso do Copão da Amazônia, criado em 1975, com o beneplácito da CBD.

Atualmente, aliás, nem a realização de uma competição como o Copão da Amazônia seria possível, uma vez que não existe mais nenhum Estado com o futebol sob o regime do amadorismo. Todos os que disputavam o referido torneio agora já adotaram o regime profissional. Simples assim!

Uma coisa, porém, eu tenho que admitir, era melhor na época do amadorismo: a remuneração de boa parte dos jogadores. Aqueles atletas que se destacavam num certo ano eram requisitados para trocar de camisa na temporada seguinte e acabavam participando de uma espécie de leilão.

E não era só dinheiro na mão o que rolava. Muitos exigiam (e ganhavam) empregos públicos (não havia necessidade de concurso naquele tempo), carros e até imóveis para trocar de clube. Os mais inteligentes, por conta disso, se garantiram na vida e permanecem nos seus empregos até hoje.

Teve até quem preferiu trocar o regime profissional em outros estados pelo amadorismo acreano. Nesse sentido, me lembro de dois exemplos, enquanto escrevo: o atacante Manoelzinho, que em 1981 jogava no goiano Anápolis; e o goleiro Klowsbey, que em 1982 estava no Londrina (PR).

O Manoelzinho voltou de Goiás para o Atlético em 1982. Ganhou, pela troca, um salário e um emprego público federal. O Klowsbey voltou do Londrina para o Rio Branco em 1983. De acordo com ele, a volta para casa o fez receber em um mês o que só ganharia em um ano no clube do Paraná.

É por aí. Não se pode trocar um tempo pelo outro. Os amadores do futebol acreano de antigamente ganhavam bem mais do que os atuais profissionais. Mas não existe espaço atualmente para outro regime que não seja o profissionalismo. É isso ou nada. E que o Acre se dê bem na série C!