Em 1967, sobreveio a primeira experiência de Joaquim Ferreira como narrador esportivo. Foto/Francisco Dandão

Joaquim Ferreira: De zagueiro linha dura a narrador esportivo: uma história de amor ao futebol

FRANCISCO DANDÃO

Foi na cidade de Brasiléia, na fronteira do Brasil com a Bolívia, a pouco mais de 200 Km. de Rio Branco, que veio à luz o cidadão Joaquim Ferreira do Nascimento, no dia 11 de outubro de 1946. Mas ele ficou pouco tempo na sua cidade natal e, mal completados 4 anos de idade, depois do falecimento da sua mãe, migrou com a família para a capital do Estado.

Em Rio Branco, Joaquim Ferreira foi morar no Segundo Distrito da cidade, local onde aconteceram os seus primeiros contatos com uma bola de futebol, em peladas de rua e campinhos de grama rala. A pouca intimidade com a bola o fez jogar sempre em posições defensivas, chutando para o lado ao qual estivesse virado ou, então, as canelas dos atacantes adversários.

Na adolescência, Joaquim dividia o tempo em duas atividades: o exercício do futebol na zaga central dos juvenis do Atlético Acreano e um emprego como comerciário. Nas horas ociosas, quando não tinha vaga nas peladas, munido de uma lata vazia de leite condensado, que fazia as vezes de microfone, ele começou a brincar de narrar as peripécias dos peladeiros.

“Eu me divertia brincando de narrar as peladas, a maioria das quais acontecia numa quadra que ficava ali na cabeceira da ponte metálica, na entrada do bairro Seis de Agosto. Tinha muito menino bom de bola naquela área e, pra falar a verdade, às vezes eu até gostava de não arranjar uma vaga na pelada, só pra ficar brincando de narrador”, explicou Joaquim Ferreira.

Jogador de time grande e o início no rádio

1964, Joaquim Ferreira ingressou no Exército Brasileiro, na qualidade de voluntário. Mas a vida na caserna se mostrou tão afeita aos seus anseios que ele resolveu engajar e fazer carreira como militar e ainda conseguiu um lugarzinho no Grêmio Atlético Sampaio (GAS), time pertencente à corporação, pelo qual se sagrou campeão acreano de 1967.

Joaquim chegou ao posto de capitão no Exército (4ª Companhia de Fronteira), onde permaneceu até se aposentar alguns anos depois. Paralelamente à carreira militar, ele cursou uma licenciatura em Matemática na Universidade Federal do Acre (Ufac), passando a exercer o magistério em escolas de segundo grau da Secretaria de Educação estadual.

Em 1967, sobreveio a primeira experiência de Joaquim Ferreira como narrador esportivo, na Rádio Difusora Acreana, num amistoso interestadual entre Atlético Clube Juventus, do Acre, e Clube de Regatas Flamengo, do Rio de Janeiro. Essa primeira vez como narrador aconteceu para cobrir a ausência do então titular Etevaldo Gouveia, que se encontrava afônico.

Sabedores do talento do militar e professor de matemática Joaquim Ferreira do Nascimento, a direção da Rádio Difusora Acreana o convidou para se tornar efetivo na equipe de esportes. Ele topou e o resultado foi uma longa e produtiva carreira narrando partidas, que só se encerraria 22 temporadas depois, em 1989, quando o futebol acreano virou profissional.

Não existia salário, mas as amizades valiam a pena

Joaquim Ferreira, como a maioria dos profissionais da equipe esportiva da Rádio Difusora Acreana da sua época, não recebia salário para trabalhar como narrador. Recebia apenas gratificações que, muitas vezes, eram gastas para viabilizar as próprias transmissões. Mas, segundo ele, as experiências, as amizades e as viagens compensavam qualquer sacrifício.

Não fosse o ofício de locutor esportivo, ele explicou que não teria tido a chance de participar de transmissões da seleção brasileira, finais de campeonatos de ponta pelo Brasil ou, muito menos, teria a oportunidade de narrar jogos em estádios como o Maracanã (RJ), o Serra Dourada (GO), o Morumbi (SP) e o Pacaembu (SP). “Isso não tem preço”, disse Joaquim.

Sobre os parceiros da crônica esportiva, ele citou dois como exemplos de radialistas da maior competência. Delmiro Xavier, que disputava com ele o título de melhor narrador, e Campos Pereira, repórter de pista. “Delmiro era clássico. Ele tinha como ídolo o Aroldo Fernandes, da Rádio Tupi. E o Campos era um sujeito imprescindível dentro do futebol acreano”, disse ele.

Mas, Joaquim Ferreira fez questão de explicar, à guisa de encerramento da entrevista, que a sua lista de amigos feitos através da militância esportiva vai muito além. “Anote aí: Pepino, Sérgio Quintanilha, José Xavantes, Aluizio Maia, José Maria Morais, Luís Rodomilson, William Modesto, Eduardo Mansour, Estevão Bimbi, João Nascimento…”, finalizou.