A concessão de estádios à iniciativa privada deve ser estudada sempre que possível. Trata-se de um equipamento que nas mãos do poder público lhe dá menos chance de ganhar vitalidade. Mas é preciso fazer em bases satisfatórias à sociedade – e temo isso sendo feito por governantes que nada tem de compromisso com o equilíbrio entre o público e o privado, como João Dória, prefeito de São Paulo.
O estádio do Pacaembu é um patrimônio da cidade, com uma bela arquitetura. Foi utilizado na Copa do Mundo de 1950 e quando construído 10 anos antes, era considerado moderno para época. Localizado na região central da capital paulista – portanto, superbem posicionado -, é hoje subutilizado.
Porém, mantém atividades muito além das partidas de futebol profissional que ainda se realizam no local, seja em seu entorno ou mesmo no complexo, que não conta só com o campo. Portanto, é preciso olhar bem como concessionar de forma que não prejudique tudo que de social acontece por lá, desde dentro do Museu do Futebol, passando pelo conjunto poliesportivo existente (piscina, ginásio e quadras externas) de um lado, e a imensa praça, a Charles Miller, do outro.
Há diversos acontecimentos gratuitos nesses espaços anexos do estádio. É preciso preservar isso e estar muito bem definido no contrato de concessão, para não ter o problema que ocorreu com a concessão do Maracanã, onde somente o estádio foi contemplado, levando às minguas o ginásio Maracanãzinho, o estádio de atletismo Célio de Barros e o Parque Aquático Júlio de Lamare, que estão no mesmo perímetro da arena maior.
O processo de concessão tem que introduzir contrapartidas, faz parte do jogo. Dou-lhe uma joia de ouro, mas você tem que cuidar dos seus entornos. Privatização de bem público é isso. E definitivamente João Dória não parece preocupado com esse contexto, tanto pela forma que pensa como pela que age.
É preciso apresentar um estudo sério sobre a concessão de equipamento esportivo de tamanha relevância, onde uma massa de dinheiro público foi despejada ao longo de sua história e, de alguma forma, precisa dar retorno à sociedade, mesmo nas mãos da iniciativa privada.
Também é necessário discutir com os envolvidos sobre uma possível proposta, e não ser enfiada de goela abaixo como parece que caminham na gestão Dória todas as suas ações administrativas.