O anúncio de que a Primeira Liga não promoverá seu torneio esse ano revela clubes ainda comendo nas mãos da CBF e da Globo. Pelo menos foi o que ficou claro na justificativa de não realização da competição de 2018, de que não teria tido acordo com a entidade e a emissora de TV.
Ora, a Primeira Liga tinha sida criada justamente para contrapor a tudo isso, em um momento em que tanto a CBF como a Globo vinham sendo acusadas de contratos suspeitos. No fim, dois anos e meio depois de seu estabelecimento, a dependência de ambos agentes parece mais do que nunca clara. Por que então não se extinguem?
Lá atrás, a ideia era que clubes grandes se reunissem em torno de uma associação, para promover seu próprio torneio, em contraposição incialmente aos famigerados campeonatos estaduais. Houve adesão de clubes do Rio, Minas e do Sul do País.
Daí, vieram os torneios e as negociações com televisão para sua exibição. Ao invés de procurar novos caminhos de transmissão para inovar, foram bater na porta da Globo com uma proposta de transmissão com valores ridículos.
Não dá para entender. Se o dinheiro da emissora tradicional era pouco, por que não partiram para outro canal, que pelo menos pudesse dar cobertura e destaque maior ao seu torneio dentro da programação – por certo a Globo não faria isso por que sua programação de futebol sabidamente tem outras prioridades.
Ainda for pedir a benção da CBF, ao invés de impor a realização do torneio. No primeiro ano até que bateu o pé e a entidade acabou adequando seu calendário ao da Primeira Liga. Mas depois deixou a CBF controlar do jeito que pôde a realização do torneio – pelo menos é o que parece.
A Primeira Liga disse que negocia agora a realização do torneio em 2019. Mas se for para se apresentar de forma acovardada é melhor nem fazer. Os clubes brasileiros não conseguem – ou não querem – medir que eles são muito maiores do que CBF e qualquer emissora de televisão.
Por que então não partem para cima na formação de uma liga forte e independente? É por isso que se desacredita cada vez mais no futebol brasileiro. Quando se faz algo razoavelmente sensato, pode-se se esperar um passo para trás em alguma outra ponta. É a velha falta de ousadia.