Nem todo mundo que se propõe a jogar futebol o faz efetivamente. Existem aqueles que tratam a bola com esmerado carinho e igualmente existem os que maltratam a deusa branca sem nenhuma piedade. E tudo isso em todos os níveis, desde gente profissional a completos peladeiros.
Os sujeitos que tratam bem a bola, infelizmente uma pequeníssima parte, esses a gente pode dizer que são as “caças”. Os narradores esportivos costumam dizer que tais personagens são “caçados em campo”. Já a turma da pancadaria, de forma oposta, a esses pode-se denominar “caçadores”.
Comecei a pensar nisso ao sentar para escrever a crônica da hora e me lembrar do jogo entre o uruguaio Nacional e o brasileiro Santos, pela Copa Libertadores da América, ora em andamento, realizado nessa semana que passou, em Montevidéu, com a vitória dos referidos gringos por 1 a 0.
O Santos, já classificado para a fase seguinte da competição, demonstrava, aqui pra nós, não querer nada com a bola. Fazia um jogo preguiçoso, burocrático, aparentemente só para cumprir uma obrigação. Já o Nacional, apoiado pela sua apaixonada torcida, jogava a própria vida.
Apesar da partida “preguiçosa”, porém, um jovem atleta do Santos chamado Rodrygo, 17 anos, a mais recente joia revelada nas divisões de base do time paulista, escalado para jogar pelo lado esquerdo do gramado, fazia a festa na cabeça de um lateral já em fim de carreira de nome Fucile.
Três vezes Rodrygo, ao dominar a bola e partir de frente para cima de Fucile, aplicou no lateral o que se convencionou no futebol chamar de “caneta” (passar a bola por entre as pernas do adversário). Na terceira vez, entretanto, Fucile tirou Rodrygo do jogo com um pontapé pelas costas.
Nas entrevistas ao final do jogo, Fucile não teve pudores em confessar que bateu de propósito, por não aguentar mais ser desmoralizado pelos dribles desconcertantes do brasileiro. Confessou, mas, devido à repercussão negativa da sua declaração, voltou atrás, dizendo que estava brincando.
Brincando não estava, é claro, nem quando bateu pelas costas no brasileiro, nem quando confessou a agressão. Aliás, nem precisava dizer nada. A televisão mostrou e todo mundo viu. Fucile viu que era impossível parar Rodrygo, na bola. Restou-lhe somente o recurso da agressão.
Por fim, devo ressaltar que esse confronto entre “caça” e “caçador” no futebol não se constitui em nenhuma novidade. O que o “caçado” tem que fazer é usar a sua habilidade para fugir do “caçador”. Naturalmente, quando a pancada se dá pelas costas, não tem como escapar. Pelas costas é covardia!