Logo que o vídeo tape foi inventado, mais de 40 anos atrás, o cronista esportivo carioca Nelson Rodrigues, torcedor do Fluminense até a medula, costumava emitir opiniões que contrariavam a imagem nas ocasiões em que o seu Tricolor das Laranjeiras era pilhado em algum tipo de irregularidade.
E quando alguém chamava a atenção do velho Nelson para o seu erro, uma vez que o vídeo estava ali para provar, o cronista, apesar da evidência, costumava dizer: “Pior para o vídeo”. Milhares de pessoas viam uma coisa que o cérebro do Nelson se recusava ver. Ele via só o que lhe interessava.
Lembrei dessa história durante o jogo de estreia da seleção brasileira domingo passado, contra a Suíça. Os telões do estádio mostrando o empurrão que o atacante suíço desferiu no zagueiro brasileiro Miranda, os jogadores do Brasil alertando o árbitro e o sujeito se negando a admitir a falta.
O empurrão impediu o zagueiro de disputar a jogada. E então ficou fácil para o atacante suíço cabecear para o gol. Tão faltosa foi a jogada que o próprio atacante antes de comemorar ficou olhando para trás, para ver se o lance ia ser anulado. E a televisão mostrando e todo mundo testemunhando.
O tal árbitro de vídeo, que é um sujeito que dispõe de vários monitores à sua frente, que está ali só para coibir irregularidades e eliminar a possibilidade de injustiças flagrantes, também não se manifestou. Ele podia alertar o árbitro principal, mas preferiu não fazê-lo. Fez que não viu nada.
Ainda teve mais. Alguns minutos depois, um zagueirão suíço deu um abraço no Gabriel Jesus, quando este já se preparava para fazer dois a um para o Brasil. Outra vez, todo mundo viu tudo pelo olho mágico da televisão. Todo mundo, vírgula. O árbitro principal e o de vídeo não viram nadinha.
E para fechar com chave de ouro o esbulho ao qual foi submetido o Brasil no seu primeiro jogo na Copa do Mundo da Rússia, segundo li nos diversos sites, a Fifa veio a público para dizer que os árbitros foram corretos e que o único erro foi dos operadores que reprisaram os lances nos telões.
Li igualmente nos sites que a cúpula da Fifa ironizou comentários de brasileiros que entenderam o comportamento dos árbitros, ao ignorar as evidências das imagens, como retaliação contra a CBF por esta ter votado na candidatura do Marrocos para sede da Copa do Mundo de 2026. Ironizaram!
De qualquer forma, o primeiro jogo já era. E eu que pensei que a tecnologia chegara ao futebol para dirimir todas as dúvidas, tive que rever as minhas conjecturas. A tecnologia é manejada por mãos humanas. E sempre poderá haver um mal-intencionado na parada. Pior para o vídeo e a imagem!