A primeira faz tchan. A segunda faz tchun e… Neymar

Empresa norte-americana fundada no começo do século XX, a Gillette possui uma respeitosa história como uma das maiores fabricantes de aparelhos de barbear. A qualidade de sua linha de produtos, que conta também com outros itens voltados para higiene pessoal, fez com que sua marca passasse a ser sinônimo de seu principal produto. Muitos não compram aparelho de barbear, e sim Gillette. Este feito é algo normalmente reservado a poucas empresas, que lideram de forma quase majoritária seus mercados. Como organização, ao ser adquirida pela Procter & Gamble em 2005, deixou de existir o que no entanto não alterou sua impiedosa posição de Market Share no Brasil, em torno de 80%. A excelência se manteve e a inovação se tornou, mais que nunca, característica marcante em seus produtos, restando aos demais concorrentes, ao menos tentarem, seguirem seus passos.

Grandes organizações, as maiores dos segmentos mais relevantes da economia mundial costumam associar suas marcas junto aos nomes de grandes astros de vários segmentos de entretenimento, o esporte é um deles. Uma união natural que costuma não ter qualquer restrição, com exceção quando o astro esportista não aceita estreitar seu nome aos de empresas que produzem itens prejudiciais à saúde, tal como Pelé fez durante toda a sua carreira. Para estabelecer estas parcerias comerciais, não é necessário que os grandes nomes se mantenham sempre no topo em suas carreiras, mas sim que estejam construíndo e conquistando vitórias fundamentadas em valores dignos, reconhecidos por seus seguidores. Atletas que sejam exemplos de superação também fazem parte deste grupo. Os vencedores se unem. Há outras questões, no entanto, que costumam evitar esta proximidade, todas elas associadas com atitudes inadequadas, sobretudo aquelas que sejam consideradas como reprováveis pelo público consumidor dos produtos de suas empresas. Se unir com valores inadequados é um tiro no pé.

Neymar é um dos maiores talentos do futebol mundial. Aos 26 anos já conquistou o que muitos outros grandes nomes da história do mais popular esporte de todos os tempos sequer chegaram perto. Foi um dos grandes responsáveis pela conquista da única medalha olímpica de ouro de nosso futebol em 2016. Reúne todas as condições de se tornar o maior atleta do mundo e vencer a Bola de Ouro. Já esteve mais próximo disso, mas muito por conta de suas atitudes está mais distante. Segundo a FIFA, sequer na lista dos 10 maiores nomes da atual temporada ele está. Talvez um equívoco. Ao longo de sua carreira têm sido frequentes comportamentos incompatíveis com seu valoroso nome. Durante a última Copa do Mundo sua imagem saiu arranhada, muito devido sua decisão pessoal em abdicar de sua habilidade futebolística por cansativas tentativas de simulação. Ações que visam enganar. Também durante a competição, provocou adversários de forma desnecessária e ainda, quando marcou gol, chegou a colocar o dedo na boca, em sinal de silêncio, como uma forma de responder aos seus críticos. Derrotado em campo, se calou fora dele. Talvez o único dentre os melhores jogadores das maiores seleções do mundo a se portar dessa maneira. Perder faz parte da vida de todos os verdadeiros campeões.

A propaganda exibida no último domingo, promovida pela Gillette, onde um texto lido por Neymar se mistura em meio de tantas fotos e ilustrações suas talvez tenha sido uma das ações mais lamentáveis da história do marketing em todos os tempos. Um pleno desserviço ao próprio atleta, aos seus verdadeiros admiradores, à empresa e seus clientes. Os envolvidos em sua produção ainda se equívocam na construção da figura de um rapaz que parece insistir em não assumir seus erros e, pior, os joga em direção a terceiros. O texto, de prepotência única, chega a condicionar o estado do país ao seu. E se muitos já o achávamos, no mínimo, gabola, certamente o texto apenas fortalece esta imagem. Ao que parece a agência responsável conseguiu fazer com que o nome da tradicionalíssima empresa de quase 120 anos de idade ficasse bem menor ao do atleta, como se aceitasse se postar ao patético papel de armadura de alguém que tem decepcionado por seu comportamento como homem. Sim, ele já tem 26 anos. Tamanho foi o equívoco desta peça publicitária, que talvez seja difícil acreditar que alguém no staff de Neymar bem como na própria equipe da Gillette tenha competência mínima para cuidar devidamente de suas imagens. Já a agência, ganhou, e muito, para jogar no lixo ambas. Gol contra de todos. Saímos derrotados, uma pena.