A alegria do grito de gol está ameaçada

O avanço da tecnologia na última década (transmissão por Off-Tube, por exemplo, hoje uma febre adotada pelas empresas de comunicação esportiva) tem proporcionado mudanças drásticas no mercado de trabalho dos cronistas esportivos brasileiros, assim como na sua relação de produção. Milhares de bons profissionais estão fora do mercado de trabalho e outros tantos sobrevivem de subemprego, principalmente no rádio brasileiro, onde, além de comprar os espaços para transmissões de jogos e programas esportivos, esses profissionais dividem o dia entre a pauta e a venda de espaço publicitário para honrar com os compromissos acordados com os proprietários das emissoras.

Isso tudo descrito acima, além do credenciamento para competições organizadas pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF), fizeram parte das discussões da 44ª edição do Congresso dos Cronistas Esportivos do Brasil, promovido pela ABRACE, dias 9, 10 e 11, em Brasília-DF, onde tive a oportunidade de participar e colaborar com os debates.

Manoel Façanha, vice-presidente Norte/Abrace, durante apresentação de relatório. Foto/ Caroline Sabattier

E se não bastassem todos esses problemas, o cronista esportivo, profissional que leva a emoção do gol aos seus ouvintes, telespectadores e leitores, poderá sofrer um golpe ainda mais duro, isso caso seja aprovada na sua integra a Lei Geral do Desporto, onde parte do texto é demasiadamente prejudicial à categoria de cronista esportivo (direito de imagem de eventos – cronistas/empresas terão que pagar para realizarem cobertura), podendo até mesmo levar o desaparecimento de grande parte desses profissionais em curto tempo.

Conforme já divulgado na grande mídia e discutido entre os cronistas esportivos, o Projeto de Lei nº68/2017 tem como intuito reunir e atualizar todas as leis voltadas para o esporte, como a Lei Pelé, o PROFUT, o Estatuto do Torcedor, a Lei de Incentivo ao Esporte e a lei Agnelo/Piva. Porém, o texto traz atualizações para assuntos importantes como Direito de Imagem e Arena, Contrato de Trabalho Específico Desportivo para todas as modalidades, financiamento esportivo, direitos e responsabilidades dos torcedores, Torcidas Organizadas e clubes e a profissionalização da arbitragem.

Em março de 2017, o anteprojeto da Lei Geral do Esporte foi aceito pelo Senado e transformado em projeto de lei. Atualmente, está esperando por análise na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania.

Portanto, se a crônica esportiva brasileira já sobrevive com dificuldades, ela poderá desaparecer com a aprovação na integra da Lei Geral do Desporto. Então é hora da categoria se mobilizar e buscar apoio político no sentido de mudar a redação do projeto da Lei Geral do Esporte para continuar sobrevivendo e levando a alegria do gol para milhares de lares brasileiros.