Talento ou suor?

Nos meus anos de janela como amante do futebol já vi muita promessa de craque ficar pelo meio do caminho e não chegar a lugar algum. Da mesma forma, já vi muito jogador sem grande intimidade com a bola ganhar destaque e seguir na carreira, transformando-se em ídolo da galera.

Acho que essa é uma situação que todo mundo que acompanha as divisões de base dos clubes, quaisquer clubes, desde aqueles mais modestos do interior do Brasil até aos mais badalados, já viu em algum momento. As histórias se sucedem no tempo infinitamente. Vai uma e vem outra!

Do meu tempo de juvenil do Rio Branco, no início da década de 1970 (bota tempo nisso!), eu lembro de dois colegas de sonho que comiam a bola nos treinos: o Dibleta e o Baladeira. Os dois eram atacantes. Ambos magrinhos. Mas a bola era uma espécie de cão amestrado nos pés deles.

O Dibleta, que era o mais franzino dos dois, era um mulato sarará e tinha tanta intimidade com a bola que era praticamente impossível tirá-la dele sem jogá-lo ao chão. Mas até mesmo para derrubá-lo era muito difícil. Nos treinos contra o time principal ele infernizava a vida dos mais velhos.

Já o Baladeira, que era o menor dos dois, era um sujeito “brancoso”, com pouca coloração nas bochechas. Este, além de habilidoso, parecia que jogava com um motor de popa na bunda. Disparava pelas beiradas do campo e dava uma canseira enorme nos laterais que encontrava pela frente.

A despeito de todo o talento, porém, nenhum dos dois jamais subiu para o time adulto. Não me consta que alguma vez foram sequer chamados para o banco de reservas. Eram talentos precoces, mas jamais demonstraram esforço ou determinação para mudar de patamar. Só queriam era se divertir!

Quanto aos jogadores de pouca técnica que chegaram longe, desses a história do futebol está repleta de registros. Principalmente na posição de volante e zagueiro. Alguns conseguem até chegar à seleção dos seus respectivos países. Para esses, o que conta é o suor e a disposição.

Na Copa de 1966, por exemplo, o Brasil convocou um lateral chamado Fidélis que, aparentemente, jamais havia sido apresentado a uma bola. E na Copa de 1978, o volante Chicão era escalado só para bater nos adversários. Ambos, porém, foram determinados para se tornarem jogadores de futebol.

E isso sem falar (mas já falando) no Dario, o Dadá Maravilha, único jogador que pairava no ar (que nem beija-flor e helicóptero), um dos maiores artilheiros do Brasil. O Dadá só “matava” uma bola se atirasse nela. Mas se doava como poucos nos jogos. Nenhum talento, mas muito suor e dedicação!