A cor da consciência

A seleção brasileira venceu o amistoso contra a representação africana de Camarões nessa terça-feira, 20 de novembro, em Londres. Vitória magrinha, por um a zero. Assisti ao jogo pela televisão e não pude deixar de fazer uma relação com a data alusiva no Brasil à consciência negra.

Primeiramente me peguei pensando que nunca antes do estabelecimento da referida comemoração eu havia imaginado que a consciência podia ser relacionada a uma cor. Relacionar a consciência a um conceito, vá lá que seja, mas a uma cor, confesso que me causa estranheza.

No meio de toda a estranheza com o estabelecimento de cores para a consciência, recebi pelo WhatsApp, como se respondendo às minhas perplexidades, uma mensagem atribuída ao ator norte-americano Morgan Freeman, negão como eu, desde o nascimento e para toda a vida e sempre.

A mensagem dizia o seguinte: “O dia em que pararmos de nos preocupar com consciência negra, amarela ou branca e nos preocuparmos com consciência humana, o racismo desaparece”. Bingo. Ponto a favor. A consciência não tem mesmo cor. E o racismo talvez não desapareça jamais.

Independentemente, porém, de toda essa questão filosófico existencial (ou “papo aranha”, como queiram os entendidos) de uma consciência que ganha cor na medida em que a discriminação salta dos cérebros para as atitudes, eu notei que a camisa do Brasil já não veste tantos corpos negros.

No time brasileiro titular nesse jogo contra os camaroneses só existia mesmo um jogador negro: o atacante William. Tinha vários “moreninhos”, “marronzinhos”, “misturados”, mulatos (Neymar, Paulinho, Danilo, Pablo, Alex Sandro…), mas negão mesmo, no meu entendimento, só o William.

Fora o William, no elenco desse time que sofreu para vencer a seleção de Camarões, os outros negros eram o atacante Gabriel Jesus e o zagueiro Dedé. O Gabriel entrou no segundo tempo e não contribuiu muito para o desfecho do jogo. O Dedé nem chegou a entrar e, assim, não contribuiu nada.

Bem diferente do passado, quando os negros eram maioria na seleção brasileira. Lembro de alguns deles enquanto escrevo: Pelé (o maior de todos), Leônidas da Silva (atacante nas Copas de 1934 e 1938), Everaldo, Jairzinho, Paulo César Caju, Marco Antônio (todos da Copa de 1970) etc.

É isso! Enquanto a consciência precisar de uma cor para representar uma raça, a única realidade que se pode esperar é a do nefasto preconceito. E sobre os campos de futebol, a bola envergonhada haverá de se recusar a beijar as redes com a alegria que deve acompanhar os gritos de gol! É isso!