Capitão matador

As minhas passagens pelo Acre, conversando com uns e outros, colhendo depoimentos e coisa e tal, não raro rendem muitas e boas deliciosas historinhas dos bastidores do futebol regional. Todos os ex-boleiros tem “causos” pitorescos na manga da camisa. Basta pedir que eles contam.

Uma das historinhas jocosas que eu fiquei sabendo nessa minha recente estada nas antigas terras de Dom Luis Gálvez Rodríguez de Arias (pra quem não sabe, figura histórica dos primórdios da ocupação do Acre por brasileiros), me foi contada pelo presidente do Atlético, Elison Azevedo.

O lance, de acordo com o Elison, aconteceu lá pelas tantas da década de 1990, quando da chegada de um técnico de fora do estado para dirigir o Rio Branco, glorioso Estrelão de tantas conquistas e tradições. Um treinador que chegou com fama de sujeito durão, rígido e disciplinador.

Acontece que por aqueles dias um zagueirão do Rio Branco havia se envolvido em um caso de assassinato. O tal zagueiro depois foi provado que não participara do crime. Estava apenas presente no momento da tragédia. Mas, de qualquer forma, era investigado à época da chegada do treinador.

O técnico, porém, começou a botar as manguinhas de fora logo na chegada. Pra começar, determinou que os treinos iriam começar quando o sol estivesse mais alto, ao meio-dia. Sob as ordens dele não ia ter moleza não. Esse negócio de treinar só depois das 16 horas, era coisa do passado.

A ideia era simples: se os jogadores aguentassem o sol amazônico de meio-dia, certamente teriam muito mais preparo físico do que os adversários. Nem as ponderações de um ginecologista boliviano, que era o médico do clube no momento, serviram para fazer o treinador durão desistir da ideia.

Os jogadores detestaram o horário determinado. Teve quem pensasse em começar ali mesmo um boicote ao tal treinador, fazer corpo mole, entregar alguns jogos, essas coisas que boleiro faz quando está insatisfeito. E teve quem se contundiu no mesmo instante, metendo os pés no chinelinho.

Veio a primeira preleção. Todo mundo, meio dia, sentado no círculo central do José de Melo. O treinador, para mostrar que era macho, disse aos berros estar sabendo que existia um “matador” no elenco. E, em tom desafiador, exigiu que o dito cujo se apresentasse. Queria saber quem era!

O zagueirão, medindo quase dois metros, sentado perto de um terçado (esquecido no gramado pelo zelador do estádio), se identificou e perguntou qual era o problema. Quando o técnico viu o tamanho do cara e o terçado por perto respondeu: – Nada não, meu “parça”. É que você vai ser o meu capitão!