Francisco Dandão
Nascido em São João do Meriti (RJ), no dia 31 de agosto de 1954, o zagueiro Paulão iniciou a sua história de amor com o Acre ainda na infância, logo depois de a sua família se mudar para o bairro de Campo Grande, no subúrbio do Rio de Janeiro. É que o seu primeiro time, ainda na categoria infantil, era dirigido justamente por um acreano, o professor Klermann.
Paulo Roberto Modesto Cunha, o Paulão, começou atuando na ponta direita. Mas, de acordo com o seu relato, apesar de exibir desde cedo um refinado trato com a bola, ele não se sentia confortável em atuar na referida posição. E assim, quando chegou à idade de juvenil, ele migrou para a lateral-direita, com a camisa do Campo Grande, à época um celeiro de craques.
Na quarta-zaga mesmo, posto em que veio a se consagrar como um dos maiores zagueiros do futebol acreano em todos os tempos, ele só veio a jogar em 1974, no time de aspirantes do Bonsucesso carioca. Antes disso, ele jogou futebol de Salão pelo Maimi, que era uma espécie de sucursal do Vasco da Gama-RJ e na seleção do Exército, nas Olimpíadas militares.
O ano de 1975 passou com Paulão alternando exibições nos aspirantes do Bonsucesso e num time de bairro chamado São Basílio. “Eu estava chegando aos 21 anos, jogando no subúrbio, mas sempre esperando uma oportunidade de vestir a camisa de um grande clube. Embora a concorrência fosse muito grande, a bola era o meu mundo”, garantiu o ex-zagueiro.
O convite para jogar no Acre
No início de 1976, por sugestão do Klermann, professor do Paulão na época de infantil, o técnico Walter Félix de Souza, o popular Té, que procurava jogadores cariocas para o Atlético Acreano, foi vê-lo num jogo entre os aspirantes do Bonsucesso e a equipe principal do Botafogo. Paulão jogou tudo e mais um pouco, marcando inclusive o gol da vitória do seu time.
A exibição primorosa do zagueiro convenceu o exigente Walter Félix. E assim, duas semanas depois, Paulão desembarcava em Rio Branco, junto com mais quatro reforços para o Galo: Guedes (atacante), Pitico (zagueiro), Lula (lateral) e Luisinho (meia). “Vim ganhando um salário muito bom, que dava para ajudar a família, no Rio, e ainda sobrava bastante”, disse Paulão.
Paulão não precisou cumprir estágio para vestir a camisa do Galo, uma vez que, por sua condição de aspirante do Bonsucesso, não havia ainda assinado contrato como profissional. Foi chegar, treinar e virar titular, fazendo uma dupla de zaga de respeito com Pitico. “O Atlético montou um timaço, faltando somente ganhar o título estadual”, afirmou o ex-craque.
Foram quatro temporadas no Atlético, de 1976 a 1979. Depois, por um salário maior, Paulão trocou o Galo pelo Juventus, onde ficou até 1983. Em 1984, ele foi dar um tempo em casa. Mas voltou em 1985, para o Independência, onde jogou até 1988. Daí até 1995, quando parou de jogar, Paulão ainda vestiu as camisas do Juventus, do Andirá e do Independência.
O maior parceiro e a formação de novos craques
Embora tenha formado uma dupla de zaga de respeito com Pitico, no Atlético, Paulão disse que o seu maior parceiro de zaga foi o Neórico, quando ambos jogavam no Juventus. “Eu e o Neórico nos completávamos. Bastava a gente ver o movimento um do outro para sabermos por onde deveríamos dar o combate aos atacantes. A gente jogava por música”, garantiu Paulão.
“Para mim”, continuou Paulão, “dos anos da década de 1970 para cá, sem falsa modéstia, apesar dos muitos ótimos zagueiros que jogaram no futebol acreano, eu e o Neórico formamos a melhor dupla. Se eu fosse escalar um time perfeito, o faria com Klowsbey; Mauro, Neórico, Paulão e Duda: Carlinhos, Dadão e Mariceudo; Paulinho, Antônio da Loteca e Anísio”.
Depois de pendurar as chuteiras, o ex-zagueiro passou a se dedicar à formação de novos atletas, fundando a “Escolinha do Paulão”. Segundo ele, desde a década de 1990 até os dias atuais, mais de 10 mil jovens, na faixa dos 10 aos 17 anos, já usufruíram dos seus ensinamentos. “Muita gente boa, que depois virou profissional, passou pela Escolinha”, contou Paulão.
Por último, Paulão não se esquivou de comparar o futebol do passado ao do presente. “Não é uma questão de saudosismo não. É um fato que, infelizmente, pode ser confirmado por todos os que viram os grandes jogadores que atuavam no Acre. Antigamente, jogador de outros estados só jogava aqui se fosse craque. Tá faltando investimento na base”, concluiu.
(Texto originalmente publicado em Futebol Acreano em Revista, edição de dezembro de 2018)