O bom do mundo dito pós-moderno é que a gente não precisa inventar nada. É só pegar as ideias do pessoal da modernidade e adaptar a um novo contexto. Dessa forma, a gente pode ir se apropriando do que já foi dito em outras situações. “Nada se cria, tudo se copia”, dizia um velho guerreiro.
Assim, que ninguém se assuste se eu disser ainda um milhão de vezes que “clássico é clássico e vice-versa”. Sei lá quantas vezes eu usei essa expressão ao longo de quase duas mil crônicas sobre futebol. O que eu sei, com a mais absoluta certeza, é que eu disse isso na crônica passada.
E disse para falar justamente do jogo entre Atlético Acreano e Independência, pelas semifinais do primeiro turno do campeonato acreano de futebol. Eu mais ou menos afirmei naquele texto que o Galo era o favorito, mas não seria estranho se o Independência saísse de campo como finalista.
Eis que veio o jogo e tudo se confirmou. Apesar de o Atlético ter superado o Tricolor de Aço, esse triunfo só foi possível numa decisão por pênaltis, depois de um empate no tempo normal. Um empate, segundo relata a fiel galera, no qual o Independência esteve sempre mais perto do triunfo.
Mas então, deixando de lado a pós-modernidade (o falecido sociólogo Zygmunt Bauman falava em “modernidade líquida”), e procurando as explicações para o vice e o versa característico dos grandes clássicos do futebol planetário, o que teria acontecido para o Galo bater o Tricolor?
Tive que recorrer ao fotógrafo/jornalista/escritor Manoel Façanha para obter maiores elementos que me ajudassem a compreender quais os motivos que determinaram a vitória do Atlético. Fiz-lhe uma pergunta direta. E ele me respondeu igualmente de forma direta: – Foi macumba, professor!
Intrigado com a resposta do meu interlocutor, pedi-lhe mais detalhes. E ele me respondeu que o Independência mandou no jogo, que marcou dois gols de bela feitura, sendo um deles num canhão de fora da área, enquanto que o Atlético só chegou às redes com dois gols daqueles ditos “espíritas”.
Ainda ponderei que o segundo gol do Independência só aconteceu porque a bola se ofereceu ao pés do atacante com a ajuda de uma poça d’água. Mas aí o Façanha retrucou que aquilo foi uma jogada ensaiada. E que os atletas do Tricolor são treinados para tabelar com pingos de chuva.
Pode ter sido, pode não ter sido. No mundo pós-moderno, cheio de imagens e telas, tudo pode, ainda que nada se realize completamente. Mas eu é que não vou duvidar da palavra do Façanha. Em vez de duvidar, vou é tratar de ler as cartas do meu tarô. Depois eu conto como foi a leitura.