Numa época em que a função dos laterais era apenas marcar os ponteiros adversários, o jovem Francisco Miguel de Freitas, conhecido (tanto no futebol quanto na vida) pelo nome de Chico Alab, adorava ir à linha fundo e efetuar cruzamentos precisos para as cabeçadas mortais dos atacantes do seu time. Foi assim do final dos anos de 1950 até meados da década de 1970.
A trajetória dele no futebol acreano começou no Independência, atendendo a um convite do também jogador (treinador posteriormente) Alício Santos. “Eu gostava mesmo era de bater as minhas peladas. Não pensava em jogar em time oficial não. Só fui porque eu estava desempregado e o Alício Santos me arranjou um emprego num bar”, afirmou Chico Alab.
Depois de alguns anos vestindo a camisa do Independência, Chico Alab mudou de casa e foi defender o Grêmio Atlético Sampaio (GAS), clube criado por militares da unidade do Exército (4ª Companhia de Fronteira) em Rio Branco. “Eu fui para o GAS em 1965, atendendo a um convite do capitão Maia. Fiquei lá até 1968, quando o time foi extinto”, disse o ex-craque.
Uma vez extinto o GAS, Chico voltou para o Independência, onde ficou até pendurar as chuteiras, após vencer o título de 1974. Mas apesar de entender que não atuaria mais em nível competitivo, ele ainda jogou em 1976, pelo São Francisco. “No time católico eu joguei pouco. Só mesmo para atender a um apelo do presidente Vicente Barata”, explicou Chico Alab.
Carreira interrompida por um acidente
Em 1972, um acidente tirou Chico Alab de campo por mais de um ano. Foi num jogo entre Independência e Juventus, no estádio José de Melo. Correram para disputar a mesma bola, ele, o goleiro Zé Augusto (também do Independência) e o atacante Eliézio. Numa fração de segundos após o choque, Chico Alab e Eliézio ficaram no chão seriamente machucados.
O melhor dos laterais direitos do futebol acreano, porém, embora já estivesse com 35 anos (ele nasceu em 2 de abril de 1937) na época do referido acidente (fratura da tíbia e perônio), ainda teve tempo de dar a volta olímpica (1974), formando num time lendário do Tricolor que alinhava, além dele, craques do porte de Zé Augusto, Aldemir Lopes, Escapulário e Palheta.
Alguns anos antes, no final da década de 1960, Chico Alab perdeu a sua maior oportunidade de jogar num centro mais avançado. É que um tio dele chamado Romeu, que trabalhava numa companhia de navegação no trecho Pará-Acre, o levou para vestir a camisa do Clube do Remo. Mas ele não aguentou a saudade, arrumou a mala e se mandou no rumo de casa.
“Parece história de pescador. Mas não foi não. Foi saudade mesmo. Eu lembrava dos coqueiros perto do cemitério, nas imediações da minha casa, no bairro Abrahão Alab, e não aguentei. Vim embora. Quando cheguei, retomei a vida de treinos no Independência e as atividades como funcionário público. Não me arrependo não. Acho que fiz bem”, contou Chico Alab.
O gol mais bonito e os maiores craques do futebol acreano
Pela sua característica de atacar como um ponteiro, o lateral Chico Alab tanto servia os seus companheiros como vivia marcando os seus golzinhos. Ele lembra vários desses lances enquanto narra a sua história dentro de campo. Mas um gol ele destaca como o mais bonito. Um gol olímpico, contra o Andirá, do goleiro Pituba. “Foi lindo”, afirmou Chico.
No que diz respeito a uma seleção acreana de todos os tempos, o ex-lateral direito não hesitou quando foi solicitado a dar a sua escalação. “Escreva aí”, disse Chico: “Zé Augusto; Chico Alab, Palheta, Mozarino e Antônio Maria; Dadão, Aldemir Lopes e Escapulário; Bico-Bico, Fued e Elísio. Todos craques, com destaque para o Fued, que sabia tudo de bola”.
Chico Alab também fez questão de destacar outros nomes emblemáticos do futebol acreano. Casos dos dirigentes Eugênio Mansour e Capitão Maia, pessoas, segundo o ex-craque, de rara inteligência e fino trato com os atletas dos clubes que dirigiam. E casos também dos técnicos Walter Félix de Sousa e Alício Santos, que Chico reputa como grandes estrategistas.
Atualmente, aos 81 anos, Chico Alab quase não sai mais de casa, situada no ramal do Sinteac, nas proximidades da sede da Federação de Futebol do Acre. Sua rotina inclui o cuidar de uma mercearia e muitas horas à frente de um televisor. E ele também não perde os jogos de futebol nem os noticiários, “principalmente o Gazeta Alerta, do Edvaldo Souza”, concluiu.
(Texto publicado originalmente em Futebol Acreano em Revista- Edição nº 8 – Dezembro de 2018)