Desde os primeiros chutes numa bola, nas peladas de infância, Francisco Leitão de Araújo, natural de Sena Madureira, onde veio à luz no dia 30 de dezembro de 1958, revelou uma grande intimidade com a bola. Tanto que em 1976, aos 17 anos, levado pelo meio campista Omar, foi um dos poucos aprovados numa peneira para compor a base do Rio Branco.
Ambidestro, pernas ligeiramente arqueadas, Leitão tomou conta da lateral-esquerda do time de juniores do Estrelão entre os anos de 1976 e 1979, jogando ao lado de muita gente boa. Casos do lateral-direito Paulo Roberto, dos zagueiros Eco e Stúdio, do armador Carioca e do atacante Medeirinho. Jogadores que depois brilharam em vários times principais.
“Esse foi um período onde eu tive como treinadores o Jorge Vela, ex-atacante do Vasco da Gama, e o goleiro Illimani, do próprio Rio Branco. Dois caras que me ensinaram muito sobre os segredos da minha posição”, garantiu o ex-lateral. “E por conta do que eles me ensinaram é que eu fui convocado inúmeras vezes para as seleções de juniores do Acre”, completou.
Em 1977, titular absoluto do time de juniores, Leitão começou a ser relacionado para a reserva do time de cima. Até que veio o dia da estreia dele no time principal, num jogo contra o Juventus. “Eu entrei no lugar do Tião e posso dizer que mandei bem. O Juventus tinha um timaço. Mas a minha estratégia para ficar bem na fita era jogar me antecipando”, disse o ex-craque.
Do campo para o banco
Em abril de 1981, aos 22 anos, Leitão se viu obrigado a parar com a bola. Casado e com um filho para sustentar, ele trocou o campo por um emprego no Banco Nacional da Habitação (BNH). “Eu até que ganhava um dinheirinho no Rio Branco. Mas o emprego no banco, além de pagar um salário maior, me garantia estabilidade. Resolvi parar”, afirmou Leitão.
Foi aí que apareceu o São Francisco no caminho do então lateral. Quem o convidou para ingressar no time católico foi o presidente Vicente Barata. Como não havia a necessidade de treinar todos os dias, prática que só acontecia aos sábados, Leitão aceitou e permaneceu por lá até 1989, chegando até a disputar um Copão da Amazônia, em Santarém (PA).
De acordo com Leitão, entre os times pequenos o São Francisco era um dos que mais incomodava os bichos papões. “De vez em quando a gente enrolava o jogo e tirava uns pontinhos dos favoritos. Tinha muita gente boa de bola no nosso time. Tinha o Almiro no gol, que era baixinho mas muito ágil. E tinha o Bismarck, o Jorge Ladrão, o Aderbal, o Dodô…”, disse ele.
Se engana, porém, quem possa imaginar que Leitão parou com a bola depois de deixar de vestir a camisa de times “federados”. Ao sair do São Francisco ele foi jogar em equipes bancárias, tanto em competições regionais quanto nacionais. Com isso, disputou torneios em quase todos os estados brasileiros. E na atualidade faz parte do time de másters do Rio Branco.
Alegria, tristeza e os melhores do futebol acreano
“A minha maior alegria enquanto jogador de futebol foi disputar uma partida contra a seleção brasileira de másters, em 1992, no velho [estádio] ‘José de Melo’. Eles ganharam por 2 a 1. Eu marquei primeiro o Edu Bala, ex-jogador do Palmeiras, e depois o Eduardo, que havia jogado do Corinthians.Não deixei os caras se criarem”, afirmou Leitão sorrindo.
Enquanto isso, a maior tristeza confessada pelo ex-lateral foi não ter dado continuidade à carreira. “Eu tive que parar cedo, por absoluta necessidade financeira. Além de ter filho e mulher, eu precisei contribuir com o sustento dos meus pais. Acho que eu tinha condição de ter chegado bem longe no futebol”, disse Leitão com uma ponta de nostalgia nos olhos.
Quanto aos melhores do futebol acreano com quem conviveu, Leitão citou o dirigente Sebastião Alencar e o técnico Walter Félix de Souza (Té). “O Alencar era um dirigente que encarava tudo com muita seriedade, além de figura humana maravilhosa. Já o professor Té, esse além de saber tudo de futebol, tinha uma forma de ensinar excepcional”, garantiu o ex-jogador.
A seleção acreana de todos os tempos, ele escalou sem pestanejar, no esquema 4-4-2. “Escreva aí”, ordenou: “Espanhol; Mauro, Chicão, Neórico e Duda; Tadeu, Dadão, Emílson e Mariceudo; Gil e Amarildo Barata. O Amarildo Barata, que normalmente não entra na lista dos melhores, era habilidoso, raçudo e tinha um chute fortíssimo”, finalizou Leitão.