Figueirense e o mito da “privatização”

Quando ano passado o Figueirense se tornou clube-empresa, a impressão inicial que deu era de que seus problemas acabariam. Com dívidas que chegavam a R$ 100 milhões, a agremiação deixava de ser uma associação civil sem fins lucrativos para se tornar uma sociedade anônima.

Mas quando os salários dos atletas foram atrasando e que culminou com a não entrada do time em campo no jogo contra o Cuiabá, em Mato Grosso, pela Série B do Campeonato Brasileiro, a poucos dias atrás, viu-se que a mudança não teve o resultado tão positivo assim.

Agora, com o pedido de bloqueio do Ministério Público do Trabalho de bens de empresas e dirigentes ligados ao clube-empresa para pagamento do passivo trabalhista, danou-se de vez.

Esse assunto remete à questão da “privatização”, tão em voga hoje e dado como modelo para o país sair da crise. Porém, concessão, parceria ou mesmo venda ao setor privado de algum ativo público ou ainda de uma associação sem fins lucrativos, como é o caso da maioria das equipes de futebol no Brasil, a prática pode não ser a melhor saída.

Primeiro que empreendedores só apostam naquilo que tem retorno financeiro certo. Duvidoso e incerto não vale. Em geral, esse pessoal faz cálculo bastante apurado para saber se a aventura tem tudo para dar certo.

É por isso que o governo federal começa a engatinhar no processo iniciado eufórico de conceder empreendimentos públicos. No primeiro semestre, o que se privatizou apresentava baixo risco de investimento e bom retorno.

Hoje, isso mudou, por que há necessidade de altos dispêndios de recursos com riscos elevados do que se tem para oferecer à iniciativa privada. Isso quer dizer que ninguém põe dinheiro tão fácil assim como se imagina. O empreendedor quer lucrar, acima de tudo.

Além disso, nem sempre empresas no comando dos negócios dão certo. Vide grupos que assumiram empresas públicas e fracassaram, ou apenas beneficiaram seus acionistas e não a sociedade, como deveria ser ou imaginava-se ser.

Esse quadro precisa ser ressaltado dentro do contexto do clube-empresa. Além disso, sabe-se que times desse tipo tem sido usados como plataforma de venda de jogadores e não exatamente com o objetivo de ganhar títulos ou formação de equipe sólida e competitiva.

Portanto, má administração e interesses alheios à vontade geral permeiam todo o sistema, e não somente àquele ligado ao setor público ou associações, como se apregoa.