Intervenção à francesa

Danou-se! A Amazônia arde em chamas! Mais ou menos como em todos os anos por essa época. Sei bem como é isso. Nesse momento não estou na região, por força de um exílio voluntário no litoral nordestino. Mas já respirei muita fumaça nos meses de agosto e setembro de anos anteriores.

A tragédia até me lembra situações que eu vivi. Numa delas, o avião em que eu estava quase se espatifou no solo. O piloto precisou arremeter ao ver que a aeronave estava descendo fora da pista. Na outra, uma autoridade local, apesar do fogo a olhos vistos, dizia que a fumaça vinha da Bolívia.

Na atual conjuntura, porém, que parece mais grave do que em todos os anos anteriores, levando-se em conta as notícias que a gente vê na mídia, o que se configura mais inusitado é a troca de agressões verbais entre políticos brasileiros e franceses. Cada um querendo ser mais macho do que o outro!

Do bate-boca surreal, o que me ocorre é que todos, de um lado e outro, vão sair um tantinho chamuscados (para usar uma expressão saída do fogo). Diz a sabedoria popular que roupa suja de cinzas deve ser lavada em casa. Jamais em público. A sabedoria popular não disse isso?Pois deveria ter dito.

As atitudes dos políticos franceses, inclusive, de acordo com um vizinho meu oriundo da pátria do herói Asterix, são parte de um pacote lá deles para intervir no espaço territorial brasileiro. A ideia seria transformar o Brasil num “país sério”, como queria o famoso general Charles de Gaulle.

O meu vizinho, que se chama Napoleão, mas que garante jamais ter frequentado um hospício, nem daqui nem de alhures, me confidenciou que o fogo na Amazônia é só o mais recente episódio da pendenga. Mas a história, segundo ele, é mais antiga do que se imagina. E já chegou até ao futebol.

Ao futebol? Ao meu questionamento, Napoleão suspirou, demonstrando uma certa impaciência, de certa forma me chamando de burro (ou alienado), e tratou de responder com outra pergunta: “Você acha, meu caro professor, que essa briga do Neymar com o PSG é mera coincidência?”

Fiquei sem saber o que pensar. E aí o Napoleão aproveitou para continuar a sua argumentação. Falou que aquela contusão no pé do craque brasileiro foi obra de uma trama do serviço secreto lá do país deles. E que aquela convulsão do Ronaldo na final da Copa de 1998 também teria sido.

Me vendo cada vez mais incrédulo, o meu vizinho Napoleão ficou agitado, gesticulando muito e com os olhos esbugalhados. Aí ele começou a misturar os idiomas e eu passei a entender muito pouco. Só entendi quando ele disse que os franceses também vão tentar mudar o nome do Botafogo. Ih!