Durante alguns anos, a partir de meados da década de 1940, existiu no Brasil um prêmio destinado a todos os jogadores de futebol que passassem duzentas partidas, ao longo de dez anos, sem sofrer expulsões. Medalhas de prata eram dadas aos profissionais. Os amadores levavam medalhas de ouro.
A honraria se chamava Prêmio Belfort Duarte e ajudava alguns atletas, principalmente aqueles de características mais técnicas, a se esmerar para evitar as punições. Contam-se casos de jogadores que amaciavam direto no confronto com os adversários só para não deixar de ganhar a medalha.
Na outra ponta da linha, porém, do lado daqueles zagueiros e volantes carniceiros, aqueles que jogavam umas tantas partidas e ficavam outras quantas de fora, dizia-se que defensor que se prezava não devia sonhar em ganhar o tal Belfort Duarte. Bom troféu para esses era o cartão vermelho!
Dois jogadores do futebol acreano da década de 1970 fizeram por merecer o Prêmio Belfort Duarte: o zagueiro Mário Mota, que jogou no Grêmio Atlético Sampaio, no Atlético e no Andirá; e o lateral-esquerdo Antônio Maria, cuja única camisa que vestiu foi a rubro-negra do Juventus.
A premiação foi entregue ao Mário Mota em 1987 pelo então presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Otávio Pinto Guimarães. Mário Mota, embora não tivesse uma técnica assim tão apurada, raramente cometia falta porque jogava sempre se antecipando ao atacante.
O Antônio Maria, por sua vez, embora tenha cumprido todos os requisitos, ao completar duzentos jogos em 11 anos (1967 a 1977) sem expulsão, jamais recebeu o prêmio. Até hoje ninguém sabe o que aconteceu. O Juventus fez uma grande festa para o seu craque, mas o prêmio não veio.
Num jornal da época que caiu às minhas mãos por esses dias, o cronista José Chalub Leite falava do feito. A saber: “Diversas homenagens serão tributadas esta noite ao jogador do Atlético Clube Juventus, o lateral-esquerdo Antônio Maria, por completar onze anos sem uma expulsão”.
“(…)Todas as honras ao craque disciplina começarão às 21 horas (…). A Federação Acreana de Desportos ainda nesta semana enviará à CBD o pedido para incluir o jogador juventino entre os que merecem o ‘Belfort Duarte’ por ter completado 200 jogos oficiais sem uma expulsão”.
Uma curiosidade sobre o prêmio. Everaldo, lateral-esquerdo do Grêmio e da seleção brasileira tricampeã no México, três meses depois de ganhar a medalha de prata do Belfort Duarte, em 1972, meteu a porrada no árbitro José Faville Neto. Perdeu a cabeça, mas não devolveu a medalha!