Portugueses, portugueses…

O primeiro português que eu tive notícia, lá na remota infância, se chamava Pedro. Justamente um dito cujo que liderara uma frota por mares nunca dantes navegados e veio dar nos costados aqui da Terra dos Papagaios (sim, essa mesma cujas praias nos dias correntes estão cobertas de óleo).

Pedro, de sobrenome Álvares Cabral, malandro que justificou a “descoberta” do Brasil (último batismo, por conta de um pau vermelho que “abundava” nesta referida localidade) por causa da falta de ventos que o teria surpreendido em alto mar. Desculpinha esfarrapada, mas vá lá que seja!

Depois desse Pedro, o outro português que eu tive notícia se chamava João. Trezentos anos depois daquele da suposta calmaria dos ventos, esse tal João, inimigo mortal da prática bárbara do banho nosso de cada dia (“isso é coisa de índio”, dizia ele), chegou por aqui, fugindo do exército francês.

Além desses dois, os outros portugueses que eu conheci lá pelas tantas(pelo menos os dignos de menção) se chamavam Luís e José. No caso, Luís Vaz de Camões e José Saramago, ambos contadores de boas histórias, umas de “trancoso” e outras nem tanto. E assim seguia-se o cerco de Lisboa.

Mas fora todos esses citados, eu conheci, ainda na adolescência, outros dois. Os que mais fizeram a minha cabeça, personagens de inúmeras narrativas, ingênuos pela própria natureza e quase sempre fazendo o papel de vítimas da piada: Joaquim e Manoel. Esses é que são os fora de “sério”.

Aí, na idade adulta, eu ainda conheci mais dois. Um tal Eusébio, sujeito que destruiu o Brasil na Copa do Mundo de 1966, e um fulano de tal Cristiano Ronaldo, criatura que joga tanto quanto se olha no espelho. Um gajo que se chama Ronaldo, mas bem que poderia se chamar Narciso.

Mas então, no meu (des)entendimento, não havia a chance de um português se chamar de outra forma que não fosse Pedro, João, Luís, José, Joaquim, Manoel, Eusébio ou Ronaldo. No memorial do meu convento, ou no ensaio da minha cegueira, não haveria um lusíada com outros nomes.

De forma que a chegada ao Brasil nesta segunda década do século XXI de um português chamado Jesus, me pegou praticamente com as calças na mão. Jorge Jesus. De Jorge, eu só conhecia o Amado, bom baiano, chegado a um vatapá picante. E de Jesus, a minha memória é de um crucificado.

Pois então é isso. O carinha chegou às praias (como o Cabral do século XVI), organizou a urubuzada (como nem o João do século XIX conseguiu na colônia), e agora dá as cartas no futebol brasileiro. E eu, por vias tortas, descobri que português tem mais nomes do que supõe a minha vã filosofia!