Mercados públicos

Adoro frequentar mercados públicos. Em qualquer lugar do mundo onde eu ponha os pés, tenho que visitar algum mercado público. A diversidade de produtos e pessoas que eu vejo num mercado me fascinam. Penso que a gente pode radiografar uma cultura pelo que se vê num mercado.

Além do mais, sempre se pode encontrar conhecidos em quaisquer mercados que se vá. Eu já encontrei acreanos num mercado de Santiago e num mercado de Nova York. Em Santiago, os conterrâneos traçavam uma sopa de mariscos. E em Nova York se distraiam com um sol em queda livre.

Em Rio Branco, então, para onde eu estou sempre voltando depois dos meus costumeiros meses de exílio voluntário no litoral brasileiro, os diversos mercados (sejam super ou não) são quase um ponto de encontro. A gente vai andando e topando com os conhecidos. E tome papo e histórias sem fim.

Semana passada, por exemplo, enquanto eu me detinha numa banca de frutas, escolhendo uma penca de bananas compridas, encontrei o Humberto Antão, ex-presidente do Juventus. O Humberto é desses sujeitos cheios de causos. Basta uma provocação que ele conta tudo e mais um pouco.

Dessa vez, a melhor história que ele me contou teve como personagem o Wagner “Alicate” (alusão às pernas arqueadas da criatura), antigo ponteiro-esquerdo juventino. Segundo o Antão, o Wagner ia para o estádio e, com medo de roubarem o fusca dele, acorrentava as rodas do carro num poste.

Como o tal fusca já não estava nos melhores dias, lá pelas tantas, na volta do futebol, de acordo com o Humberto Antão, o Wagner encontrou o carro sem as correntes e um bilhete pregado no para-brisas. Teor da correspondência: “Amigo, pode ficar com o carro. Só quero a corrente”.

Depois do Antão, quando eu já ia para o estacionamento, dei de cara com o Aurio Tamburini (Azevedo na certidão de nascimento original, mas trocado para o sobrenome rebuscadodepois que ele passou três dias na Itália), corredor que sempre chegava na “rabada” nas provas dos anos 1970.

O Aurio (Rato para os íntimos) é outro que tem histórias pra mais de metro. Mete o pau em todo mundo. Sabe tudo, do alto dos seus 65 anos (depois que mudou de sobrenome, ele deu uma rebaixada na idade). Não tem papas na língua. Só não concorda quando eu lhe proponho uma entrevista.

A tese dele para não me conceder uma entrevista é a de que os meus personagens não chegam ao ano seguinte. Já expliquei-lhe que não tem nada a ver e que ele deveria fazer um teste: conceder-me a entrevista e sobreviver por muitos anos. Seria a prova em contrário. Resposta dele: “nem morto!”