Francisco Dandão
Dois campinhos de bairro, no segundo distrito de Rio Branco, no caso o Papoquinho e o Marreta, testemunharam os primeiros chutes na bola do volante Mário Sales de Oliveira, na segunda metade da década de 1960. A camisa era a da Ponte Preta, recheada de outros garotos bons de bola, muitos dos quais brilharam, quando adultos, nos principais clubes acreanos.
Em 1972, pouco antes de completar 16 anos (ele nasceu no dia 3 de dezembro de 1956), Mário Sales foi levado pelo goleiro Tidal para o juvenil do Atlético Acreano. Como já era conhecido do pessoal do Galo, não foi nem preciso fazer teste. Foi chegar e ganhar a camisa número 5, aquela que é destinada ao jogador que vai ser o cão de guarda dos zagueiros logo atrás.
No ano seguinte, viria o primeiro título da carreira: campeão acreano juvenil, numa final contra o Juventus, que era o terror das categorias de base. E, por conta do bom futebol exibido, Mário Sales foi imediatamente chamado pelo técnico Alício Santos para o banco de reservas do time de cima, sendo que no início ele só entrava na lateral-direita, no lugar do Pintão.
Ficou nessa condição de jogador da base e do time principal até 1975. Aí resolveu dar uma parada para servir o Exército. Mas não abandonou a bola não, uma vez que ao chegar à corporação foi convocado para integrar a seleção que disputaria uma Olimpíada militar em Porto Velho. “Fomos campeões. E eu tive a chance de levantar mais um troféu”, disse Mário Sales.
Independência e Rio Branco
No mesmo ano em foi campeão da Olimpíada do Exército, 1976, Mário foi convidado para voltar ao time do Atlético. Quem o convidou foi o técnico Walter Félix de Souza, o Té. Apesar do convite do próprio treinador, o volante praticamente não jogou. Como ele se sentia em condições de entrar no time titular, mas não seria aproveitado, não aceitou a reserva e foi embora.
Aí surgiu o Independência na sua vida. Convidado pelo técnico Aldemir Lopes, Mário se mudou de mochila e chuteiras para o Tricolor do Marinho Monte, integrando um elenco mesclado de jovens e experientes. “Entre os mais experientes tinha o Valdir Silva, o Deca e o Belo. E entre os mais jovens tinha o Pedrinho, o Neco e o Toroco”, afirmou o ex-volante.
Ficou dois anos no Independência. Quando chegou o ano de 1979, Mário se mudou para o Rio Branco, levado pelo coronel Junqueira. “Eu havia entrado na Polícia Militar um tempo antes. O coronel Junqueira era, ao mesmo tempo, sub-comandante da PM e diretor do Estrelão. Eu não podia recusar um convite de um superior. Fiquei por lá até 1984”, explicou Mário.
Até então, Mário não havia ganhado praticamente nada com o futebol. Mas aí a coisa mudou de figura. Já consagrado como um dos grandes volantes do futebol acreano, ele ganhou um saco de dinheiro para trocar o Estrelão pelo Galo, em 1985. Quem o convidou foi o diretor Máximo Damasceno. Ele botou a grana no porta-malas do carro e levou pra casa.
Amapá, o último clube
O saco de dinheiro dado pelo Atlético foi suficiente para manter Mário Sales no Galo somente por uma temporada. No ano seguinte, o diretor do Independência, Adalberto Aragão, levou-o de volta ao Independência, pagando-lhe com outro saco recheado de notas novinhas. Ele jogou em 1986 e 1987 pelo Tricolor. Aí achou que já era hora de pendurar as chuteiras.
Dois anos depois, porém, Mário Sales acabou voltando para vestir a sua última camisa enquanto jogador de futebol: a do Amapá, o famoso Diabo Laranja. “O pessoal do Amapá me chamou para disputar o Copão da Amazônia. Eu estava parado. No começo, recusei o convite. Mas depois o Edson Izidório me convenceu que eu ainda poderia ser útil”, contou Mário.
Depois disso, além dos jogos pelo time de masters do Rio Branco, Mário só se envolveu com o futebol em duas oportunidades: em 2003 e 2005. Na primeira vez, como técnico do Atlético Acreano. E na segunda, como auxiliar técnico do também ex-volante Gilmar Sales. Considera, porém, que essas duas passagens foram suficientes para não querer mais saber disso.
Os melhores do futebol acreano da sua época? O ex-volante não hesitou em responder. Dirigente: Sebastião Alencar. Técnicos: Coca-Cola e Ticão. Seleção: Ilzomar; Paulo Roberto, Chicão, Neórico e Duda; Mário Sales, Dadão, Carioca e Carlinhos Bonamigo; Gil e Paulinho Rosas. “Com essa turma aí seria muito difícil alguém se dar bem”, finalizou o ex-craque.
(Texto originalmente publicado em Futebol Acreano em Revista – Edição nº 9 – Dezembro de 2019)