Perigo à vista

Viver é deveras perigoso. De repente, quando tudo parece ir mais ou menos, despenca um vírus das bandas da Ásia e obriga todo mundo a andar mascarado ou ficar recluso dentro de casa… E lá se vão de roldão as bolsas de valores. Viver é tão perigoso que Fernando Pessoa preferia navegar!

Aí, como não se pode sequer tocar alguém (beijar então pode ser uma sentença de morte), o jeito é ficar teclando o pianinho dentro de uma redoma. O virtual se sobrepõe ao real. Para se proteger dos estranhos ameaçadores, fecham-se as fronteiras. Quem está fora não entra, quem está dentro não sai.

E o esporte, que, em tese, não teria nada a ver com isso, pula num poço sem fundo. A primeira medida foi fechar os portões dos estádios. Coisa mais esquisita: os jogadores exercitando a sua arte e ninguém para lhes aplaudir (ou vaiar). De testemunha, só mesmo as câmeras das emissoras de televisão.

Então chega um momento em que as autoridades entendem que não basta fechar os portões (tem um psicopata no Planalto Central que é do contra). O show tem que parar. E o show para. Só Deus sabe quando o show poderá continuar. Quem viver, verá. Ou melhor: quem sobreviver, verá.

Para explicar o inexplicável, pipocam teorias conspiratórias. Segundo o Márcio Chocorosqui, mestre, poeta, texto primoroso, senso de humor afiado, os culpados são os russos. E esse novo vírus teria sido lançado na atmosfera num satélite nos anos 1960. Agora caiu nas montanhas da China.

Por esse raciocínio, a ideia nem era explodir, assim tão de pronto, as gargantas ou os pulmões de ninguém. A ideia era mesmo infectar os morcegos. Como os chineses comem tudo na vida (cururu, surucucu, morcego e urubu), era fácil prever que o troço ia passar para os humanos

E tem aquela conversa de que a pandemia foi causada pelos fabricantes de álcool gel. Sabe como é, né? O álcool estava sobrando nas prateleiras, a indústria não tava vendendo mais nada, e então tinha que aparecer alguma coisa. As mãos da galera já começam a perder a cor, tanto álcool e sabão.

E tem, ainda, a teoria da queda das bolsas (essa está sendo espalhada nas redes sociais). O que se diz disso é que os chineses criaram o tal vírus em laboratório para espalhá-lo pelos cinco continentes e fazer as ações caírem. Aí eles compram, seguram, e vendem quando tudo se normalizar.

Eu só sei que não sei. Enquanto isso, Ronaldinho bate peladas na prisão paraguaia, o dólar devora a moeda brasileira, Cristiano Ronaldo se refugia na Ilha da Madeira, a turma do “não tô nem aí” vai pra rua protestar contra o Congresso… Eu acho que a última chuva foi mais LSD do que água!