Francisco Dandão
Entre os anos de 1956 e 1971, o futebol acreano viu desfilar no Estádio José de Melo um meio campo de estilo clássico, cujas principais características eram a precisão dos lançamentos longos e a passada larga, que o tornava mais rápido do que os adversários. Ele metia uma bola de 40 metros como ninguém. E chegava sempre na frente quando disputava um lance.
A bola entrou na vida do “Passada Larga” (ele ganhou esse apelido dos torcedores) ainda na infância. Aos 15 anos, em 1955 (ele nasceu no dia 11 de março de 1940), José Augusto Cunha vestiu a primeira camisa de um time. Era um time de periferia. Ele não lembra o nome da equipe. Só lembra que o dono das camisas se chamava Alcides e trabalhava como encanador.
Em 1956, fruto das suas atuações no subúrbio, ele foi levado para o Rio Branco. Ficou sete temporadas no Estrelão (de 1956 a 1962), período em que se sagrou campeão acreano por cinco vezes: 1956, 1957, 1960, 1961 e 1962. Neste ano, o Acre teve dois campeonatos: o último do Território Federal e o primeiro do novo Estado. O Atlético foi campeão do segundo.
Depois desse longo período no Rio Branco, José Augusto foi emprestar o seu futebol ao Vasco da Gama, atendendo a uma convocação do professor Almada Brito. Segundo ele, o Almirante da Fazendinha até que fez um bom campeonato, mas ficou longe de disputar as finais. E, pra completar, ele ainda levou o azar de sofrer uma grave contusão no joelho esquerdo.
Parada para recuperação e testes no Bonsucesso-RJ
Em 1964, José Augusto não vestiu a camisa de nenhum clube. Por falta de boas condições médicas no Acre, ele teve que viajar para o Rio de Janeiro para tratar o joelho lesionado. Foi operado e seguiu durante alguns meses dedicando-se à fisioterapia. A cirurgia foi um sucesso e a recuperação também. Assim, no segundo semestre ele já estava pronto para voltar à bola.
A oportunidade de ser um profissional de futebol veio nessa estada no Rio de Janeiro, depois da recuperação do joelho. É que um amigo o levou para fazer testes no Bonsucesso carioca. O técnico da equipe, professor Daniel Pinto, adorou o futebol do meia acreano e o indicou para assinar contrato. “Não aceitei, com medo de perder o emprego”, disse José Augusto.
De volta ao Acre, em 1965, José Augusto fez alguns jogos pelo time do Colégio dos Padres, embrião do Juventus. E foi de novo defender o Rio Branco, onde jogou por duas temporadas. Em 1967, mudou-se para o Grêmio Atlético Sampaio (GAS),sagrando-se campeão estadual logo de cara. Dois anos depois foi para o Andirá, onde pendurou as chuteiras em 1971.
Mal parou de jogar, assumiu o comando técnico do Internacional, a convite do dirigente Antônio da Costa Gadelha. Ficou várias temporadas no clube, transformando o pequeno Saci do Ipase numa espécie de terror dos times grandes. Na sequência, treinou o Vasco da Gama em 1976 e 1977, encerrando a carreira como campeão acreano dirigindo o Atlético, em 1991.
Gol inesquecível e os melhores do futebol acreano
Marcar gols não era, necessariamente, o forte do armador José Augusto “Passada Larga”. Ele preferia, quase sempre, servir de garçom para os companheiros de ataque. Mas, de vez em quando, ele também fazia os seus golzinhos. Foi o caso de um gol contra o Independência, quando, de acordo com o ex-craque, ele pegou um chute tão violento que furou a rede.
No que diz respeito aos melhores jogadores do futebol acreano, embora ele continue acompanhando as competições, o ex-craque dá uma de saudosista assumido, escalando apenas atletas do passado remoto: Pedrito; Chico Alab, Palheta, Mozarino e Terceira; Dadão, Tião Lustosa e Passada Larga; Bico-Bico, Touca e Jangito. Técnico: Walter Félix, o “feiticeiro” Té.
Formado em Matemática e Economia (ambos pela Universidade Federal do Acre), aposentado duplamente, como funcionário público estadual e federal, José Augusto “Passada Larga”, vascaíno desde sempre (ele não está nada feliz com as agruras atuais do seu time), do alto dos seus 80 anos, opina e discorre sobre quase tudo com fluência e propriedade.
Mas o que ele gosta mesmo é de analisar o futebol. “O futebol brasileiro, e não só o acreano, mudou demais as suas características de 1970 para cá. Até aquele ano, o futebol era clássico, elegante. Hoje prepondera a rispidez e a virilidade. A marcação moderna é muito pesada. Não se respeita mais o drible. Agora, o negócio é não deixar jogar”, disse o ex-craque.