Sem futebol em época de pandemia do covid-19, canais esportivos, e até mesmo a Rede Globo, optaram pela exibição de vídeotapes de vitórias épicas da nossa seleção brasileira. No último final de semana, não contente ainda com o replay da conquista da Copa das Confederações/2005 sobre a nossa arquirrival Argentina por 4 a 1, resolvi então assistir o DVD da Copa da Suécia “1958, o ano em que o mundo descobriu o Brasil”.
Se o time brasileiro da conquista da Copa das Confederações era compacto e contava com um ataque espetacular, formado por Adriano Imperador, Robinho, Ronaldinho Gaúcho e ainda Kaká, o Brasil da Copa da Suécia, além da boa compactação tática, ainda tinha no mesmo time genialidades como Pelé, Garrincha, Didi e Vavá, entre outros bons jogadores.
O vídeo “1958, o ano em que o mundo descobriu o Brasil” conta histórias interessantes daquela época, desde a eleição da dobradinha João Havelange/Paulo Machado de Carvalho para dirigir a Confederação Brasileira de Desportos (CBD), como a dramática classificação para o mundial da Suécia.
O jogo decisivo ocorreu no dia 21 de abril de 1957 (há exatos 63 anos), com um Maracanã lotado, diante do Peru. O único gol da partida saiu dos pés de Didi, apelidado pelo cronista esportivo Luís Mendes de príncipe etíope, pela elegância de jogar futebol. Mendes conta que o gol veio somente numa bola parada aos 11 minutos da etapa final, o qual ganhou o apelido de folha seca, pela forma com que o brasileiro da camisa 6 conseguiu pegar na bola.
No ano seguinte, a seleção brasileira, cheia de desconfiança por parte do torcedor e da imprensa, embarcava para Suécia. O complexo de inferioridade era uma ferida aberta e alimentada pelo fantasma da perda da Copa do Mundo de 1950, ocorrida no Brasil contra o Uruguai por 2 a 1, tornando-se ainda uma preocupação para o técnico Vicente Feola e para o chefe da delegação, o empresário Paulo Machado de Carvalho, esse levando, inclusive, na delegação um psicólogo para o mundial. O então jovem Pelé, de 17 anos, era apenas uma promessa da época, tanto que até mesmo Zagallo e os demais jogadores cariocas desconheciam o potencial de seu futebol, mas o “Velho Lobo”, já experiente, disse para os companheiros: se está aqui é porque tem qualidade.
No entanto, a estreia vitoriosa contra a forte seleção da Áustria por 3 a 0 – gols de Mazolla (2) e Nilton Santos, tirou grande peso da equipe, mas o empate sem gols contra os ingleses acendeu o sinal de alerta, tanto que Vicente Feola mandou a campo contra os russos o trio Garrincha, Pelé e Zito, respectivamente nos lugares de Joel, Mazzola e Dino Sani. O resultado foi um passeio brasileiro, com atuação memorável de Garrincha, que só não fez chover na vitória por 2 a 0.
O futebol alegre e envolvente, ora comandado no meio-campo por Didi, e ora pelo trio ofensivo Garrincha, Vavá e Pelé, assustou os demais adversários e impôs respeito ao time canarinho. Nas quartas-de-final, num jogo duro, o Brasil eliminou a forte seleção de País de Gales por 1 a 0, com um gol antológico de Pelé.
Nas semifinais, o Brasil despachou o bom time francês do artilheiro marroquino e naturalizado francês Just Fontaine, por 5 a 2, numa excelente exibição de Pelé, autor de três gols. Vavá e Didi completaram a goleada. Fontaine e Piantoni descontaram para os blues.
Na grande decisão, contra a Suécia, os donos da casa, após sorteio, ganharam o direito de vestir camisa de cores amarelas. Foi um deus no acuda nos bastidores do time canarinho, pois não havia outro jogo de camisas de outra cor. O jeito foi improvisar no mercado sueco camisas azuis para costurar o escudo da CBD no uniforme canarinho.
Confiante, o chefe da delegação Paulo Machado de Carvalho tratou de jogar a superstição de lado e afirmou: vamos jogar com o manto da cor de Nossa Senhora Aparecida e seremos campeões. Com a bola rolando, o Brasil, após sair perdendo por 1 a 0 para os anfitriões, virou o marcador para 5 a 2. Vavá e Pelé marcaram duas vezes cada e Zagallo completou a goleada. Liedholm e Simonsson fizeram os gols dos suecos. A partir desta épica conquista todos passaram a conhecer o Brasil, ao menos, o nosso futebol, isso após 458 anos do seu descobrimento por Pedro Álvares Cabral.