Francisco Dandão
De 1971, quando os dirigentes do Rio Branco foram buscá-lo no município amazonense de Boca do Acre, a 1980 foram dez as temporadas em que o atacante Ely de Souza Santos defendeu as cores do Estrelão. Ambidestro, veloz, driblador, ele jogava em todas as posições do ataque e foi titular absoluto com todos os técnicos com os quais chegou a trabalhar.
“Quando eu cheguei ao Rio Branco, o titular da ponta-direita era o baixinho Evandro. Depois de alguns treinos, porém, o técnico Antônio Leó resolveu que eu iria assumir a titularidade. Graças a Deus, fui bem e tudo deu certo. Não saí mais do time. Inclusive porque eu tinha a capacidade de jogar também no meio do ataque e na extrema-esquerda”, explicou Ely.
A transferência de Ely para o Rio Branco se deu por obra e graça de uma excursão do Juventus à Boca do Acre. O craque amazonense, que era considerado o melhor jogador da cidade, acabou com o jogo e despertou o interesse do Clube da Águia. Mas os dirigentes do Juventus dormiram no ponto e o Dr. Lourival Marques, presidente do Estrelão, foi mais rápido.
Ely, que nasceu no dia 10 de julho de 1952, naquela altura da vida, com 19 anos, só havia jogado no Grêmio Estudantil (time do Patronato Nossa Senhora de Nazaré, mantido pela Ordem dos Padres Servos de Maria) e na seleção de Boca do Acre. Mudar para um clube do porte do Rio Branco acabou se constituindo num grande salto na vida do então promissor atleta.
Muitos títulos e grandes emoções
Ely integrou vários elencos vencedores do Estrelão. “Era uma época em que os dirigentes lutavam para dotar o time de bons jogadores. Por isso, eu ganhei nove títulos. Fui campeão acreano quatro vezes [1971, 1973, 1977 e 1979], duas do Copão da Amazônia [1976 e 1979], duas do Torneio do Povo [1973 e 1979] e do Jubileu de Prata da FAD [1972]”, disse o ex-craque.
De todos esses títulos, o mais emocionante, de acordo com Ely, foi o do Copão da Amazônia de 1976. A decisão foi entre Rio Branco e Juventus. Ely foi quem marcou o gol da vitória. Uma emoção tão grande quanto aquela vivida três anos antes, em 1973, quando ele foi encarregado de entregar a sua camisa “sete” para o Garrincha, num amistoso contra o mesmo Juventus.
Mas como na vida nem tudo é sucesso, o ex-atacante também teve os seus dias de profunda tristeza enquanto jogador de futebol. Segundo ele, “a perda do bicampeonato do Copão da Amazônia, em 1977, em Porto Velho, para o Moto Clube, me deixou extremamente decepcionado. A gente dominou o jogo, mas a vitória não veio. Aí fomos derrotados nos pênaltis”.
O bicampeonato do Copão, na verdade, foi apenas adiado. Dois anos depois, em 1979, mais uma vez em Porto Velho, o Rio Branco, com o ponteiro Ely compondo o ataque junto aos parceiros Nino e Irineu, vitória na final sobre o Ferroviário. E embora o gol do título tenha sido marcado pelo reserva Bruno Couro Velho, o artilheiro do time na competição foi Ely.
Marcador implacável e melhores personagens
Normalmente, Ely era quem preocupava os laterais inimigos. Testemunhas da década de 1970 dão conta de que os adversários encarregados de marcar o atacante perdiam o sono na véspera das partidas. Um lateral, porém, Ely disse que lhe dava muito trabalho. “Era o Antônio Maria, do Juventus. Jogava só na bola. Travamos bons duelos”, explicou.
Sobre uma seleção de jogadores do seu tempo, ele escalou o seu time com: Zé Augusto; Mauro, Chicão, Neórico e Cleiber; Vale, Euzébio e Dadão; Ely, Calinhos Bonamigo e Bico-Bico. “Mas tinha muita gente excepcional. Fora esses onze, havia o Espanhol, o Paulão, o Emílson, o Escapulário, o Nostradamus, o Mário Vieira, o Julião…”, garantiu o Ely.
No quesito melhor dirigente e técnico, Ely citou quatro nomes. “No Rio Branco, não dá para destacar um só dirigente. Eu convivi com três presidentes fora de série. São eles: Lourival Marques, Edmir Gadelha e Sebastião Alencar. E quanto ao melhor treinador, eu destaco o Antônio Leó, cara que era durão, mas leal e querido por todos os jogadores”, afirmou.
Quanto ao futuro do futebol acreano, Ely também não se eximiu de emitir sua opinião. “O futebol do Acre tem potencial, mas só poderá evoluir e subir alguns degraus em nível regional e nacional se vier a contar com investimentos do setor privado, numa situação onde as empresas atuem como patrocinadoras. Sem isso, não tem jeito”, concluiu o antigo artilheiro.