Francisco Dandão
Desde as primeiras peladas, no campo da Fazendinha, de propriedade do Vasco da Gama, em 1979, pouco depois de completar 12 anos (ele nasceu no dia 7 de dezembro de 1966, em Rio Branco), que o cidadão Edson Maria da Silva Almeida, o Som, entendeu que a sua missão em campo seria a de neutralizar os ataques adversários. Um zagueiro por convicção e vocação.
Um dia, depois de uma pelada, o professor Almada Brito, presidente do Vasco, o convidou para jogar no infantil Cruz de Malta. Convite aceito, Som ficou dois anos defendendo o time cruzmaltino. Daí foi para o Juventus, onde ficou de 1981 a 1984, sagrando-se campeão acreano infantil e juvenil, sob o comando, respectivamente, dos técnicos Saraiva e Maurício Generoso.
Em 1985, uma pausa no futebol para prestar o serviço militar. Mas em 1986, tão logo deixou o quartel, lá estava Som outra vez na Fazendinha. Agora no elenco principal do Vasco, sob o comando do treinador Carlito Viegas. Ficou na reserva durante algum tempo. Os titulares eram Zé Galinha e Iracélio. Até que apareceu uma chance e ele não saiu mais do time.
A estreia dele como titular do Vasco, ressalte-se, não foi nem um pouco gloriosa. O time levou uma lapada de 4 a 0 do Rio Branco. Nada, porém, que pudesse abalar a confiança da direção do Vasco no seu trabalho. “O Rio Branco, treinado pelo técnico cearense Coca-Cola, tinha um time muito bom. Tanto que foi o campeão daquele ano”, disse o ex-zagueiro Som.
Bate e volta em Manaus e formação acadêmica
No começo de 1988, de férias em Manaus, foi levado por um irmão para fazer um teste no Rio Negro, que era o campeão amazonense do ano anterior. Foi aprovado, assinou contrato e fez parte do elenco bicampeão. Mas, apesar do compromisso de dois anos, Som viajou a Rio Branco no Natal do mesmo ano e resolveu não voltar para cumprir o restante o contrato.
Por conta da quebra do contrato, ele teve dificuldades para resolver a sua situação. Só conseguiu com a ajuda do presidente da federação acreana, advogado Antônio Aquino Lopes. E então, em 1990 voltou a vestir a camisa do Vasco, disputando também o campeonato de 1991. Aí, aos 25 anos, resolveu largar os gramados para fazer o curso superior de Educação Física.
Uma vez formado, Som foi trabalhar simultaneamente como professor de academia e preparador físico do time profissional do Independência. Depois do time Tricolor, ele atuou, sucessivamente, ainda na condição de preparador físico, no Vasco da Gama e no Rio Branco. Até virar técnico, passando nos últimos anos por Juventus, Independência, Vasco e Humaitá.
No Humaitá, aliás, ele fez as suas participações mais recentes, disputando em 2019 a Copa Verde e o primeiro turno do campeonato estadual de 2020. Sem clube atualmente, ele disse sonhar com a chance de realizar um trabalho de longo prazo, onde possa planejar etapas que garantam, inclusive, a formação de novos atletas. “Isso seria perfeito”, disse.
Adversários difíceis e o futuro do futebol acreano
Dos seus tempos como zagueiro, Som falou dos atacantes mais difíceis de marcar. “O Paulinho era o atacante mais chato. Mas tinha também, entre os que davam trabalho, o Pitola, o Roberto Ferraz, o Neivo, o Manoelzinho, o Gil… Com esses caras, zagueiro nenhum podia dar a menor moleza. Se cochilasse, eles mandavam a bola para o gol”, explicou o ex-zagueiro.
No que diz respeito aos melhores do futebol acreano de todos os tempos, Som escalou a sua seleção com: Zé Augusto; Mauro, Neórico, Paulão e Duda; Emilson, Mariceudo e Testinha; Paulinho, Doka Madureira e Artur. Melhor treinador: “Ulisses Torres, com quem eu trabalhei e aprendi muito”, disse Som. Melhor dirigente: “Sem dúvida, o Illimani”, garantiu.
Sobre o futebol acreano do passado e do presente, Som disse que a principal diferença é que “antigamente os clubes se constituíam em verdadeiras escolas de formação de jogadores. Na realidade atual, eles [os clubes] preferem usar da importação. Por não ter a escola de antigamente, o pessoal que chega não demonstra prazer em defender as cores do seu time”.
E quanto às perspectivas de futuro para o futebol estadual, Som foi taxativo. “Os clubes precisam, fundamentalmente, se organizar, criando estruturas que lhes permitam ser realmente profissionais. Sem isso, só dependendo da ajuda de um ou de outro, jamais vão sair do lugar. Evoluir e galgar degraus mais altos no futebol brasileiro só depende de cada um”.