Hoje o futebol perde dinheiro, amanhã pode ser vidas

O retorno do futebol em alguns estados brasileiros, aos poucos, começa a ser liberado. No entanto, um protocolo de exigências estabelecidas pelas autoridades de saúde pública precisa ser implementada para o retorno com segurança dos atletas e demais envolvidos no futebol. A medida é simpática a boa parte dos torcedores, mas precisa de recursos para ser implementado durante as rodadas.

Vejo que a possibilidade do retorno dos estaduais é algo bem concreto dentro de algumas semanas ou até meses, mas o cenário será de estádios vazios (jogos sem torcidas e ainda cheios de comoção nacional pela perda de vidas ocasionada pela covid-19). Por outro lado, o retorno dos estaduais no futebol periférico, como é o nosso, é uma verdadeira incógnita. As exigências sanitárias (testes para covid-19, higienização dos ambientes e, entre outras exigências), para o retorno em segurança de atletas e demais envolvidos durante as partidas têm elevados custos financeiros para os nossos padrões futebolísticos. Neste caso, o aconselhável será esperar pela redução drástica da curva epidemiológica – sem data para ocorrer – para se pensar na retomada, mas ainda respeitando algumas exigências da legislação sanitária.

O certo é que a pandemia do covid-19 trouxe uma realidade de prejuízos em diversos setores da sociedade mundial, onde o futebol está inserido neste processo. Segundo a consultoria KPMG, apenas as cinco principais ligas nacionais da Europa (Inglaterra, Espanha, Itália, Alemanha e França) podem sofrer um impacto equivalente a R$ 20 bilhões se os campeonatos não puderem ser retomados. O estudo revela ainda que a Premier League, na Inglaterra, pode sentir no bolso um impacto de R$ 6,7 bilhões. Cerca de 62% desse valor (R$ 4,2 bilhões) se deve às transmissões de televisão pelo mundo afora.

Segundo a própria KPMG, no Brasil o duro golpe financeiro será pesado porque boa parte dos recursos depende principalmente dos times estarem em atividade. As rendas com bilheteria representam 15% da receita anual dos clubes e os contratos de TV são responsáveis por 42% (o contrato entre a Rede Globo e os clubes da Primeira Divisão prevê um pagamento de R$ 600 milhões anuais pela transmissão das partidas). Justamente esses dois segmentos importantes são os mais afetados pela paralisação.

O certo é que a problemática para a retomada do futebol não é tão simples. Ela é demasiadamente complexa e exige habilidade e muita responsabilidade dos dirigentes e autoridades sanitárias do país. Se de um lado todos envolvidos no futebol perdem dinheiro com a paralisação das competições, do outro, poderemos perder vidas.