Teve uma época no Acre que as corridas pedestres eram uma espécie de febre, delírio coletivo. Tinha corredor famoso, com torcida organizada e tudo. Esses torcedores se postavam nas laterais das ruas e avenidas e ficavam dizendo palavras de incentivo aos seus ídolos. Era um grito a cada passo.
Não lembro exatamente a data da 1ª Corrida Pedestre Coronel Sebastião Dantas. Acho que foi nos primeiros anos da década de 1970, no governo do professor Francisco Wanderlei Dantas. Mas lembro que o seu principal organizador foi o falecido radialista Pedro Paulo Campos Pereira.
E lembro que o primeiro vencedor dessa corrida foi o tarauacaense Ary Nauá Lustosa Leão. Baixinho, magrinho, com um fôlego absurdo, o Ary Nauá liderou a corrida de ponta a ponta. O cara tinha tanto fôlego que cruzou a linha de chegada assim como se tivesse apenas atravessado uma rua.
Depois do Ary Nauá surgiu muita gente boa de corrida no espaço territorial acreano. Vou lembrando de alguns nomes enquanto produzo essas mal traçadas de hoje. Casos do Fauzer Aiache, do Paulo Cézar Queiroz (irmão do Badate), do Dedé, do Floriano, do Erádio, do Aurio Azevedo…
Desses seis citados, quatro já viraram estrelas no céu da nossa memória. O Fauzer foi assassinado, segundo consta, vítima de um crime passional; o Paulo Cézar perdeu o controle da sua moto; o Erádio foi traído pelo coração; e o Dedé partiu para o além por conta de uma doença insidiosa.
Eu via esses sujeitos todos esbanjando preparo físico, subindo a ladeira da maternidade Bárbara Heliodora, já na reta final da disputa, com a respiração pra lá de natural, na maior tranquilidade do mundo, e ficava me perguntando de onde eles tiravam tanta vitalidade. Eu cansava só de olhar!
Aí, um dia desses, de passagem por Rio Branco, eu encontrei, em momentos distintos, os dois corredores sobreviventes do grupo que eu identifiquei nos parágrafos anteriores. Encontrei-os, puxei uma conversa fiada, e perguntei a ambos qual era o segredo de tanta vitalidade e fôlego.
O Aurio, que é biólogo de formação acadêmica, demorou pra abrir o jogo. Mas depois que eu paguei pra ele duas tapiocas e um suco de cupuaçu (o nosso encontro foi no mercado), ele me disse que algumas horas antes das corridas costumava encher a pança de chá de papoula. Aí corria o dia todo!
Já o Ary Nauá, que eu encontrei na Arena da Floresta (no segundo semestre do ano passado, o nome do estádio ainda era esse), ele me disse que não sabia o segredo para a sua resistência física não. Mas contou que costumava comer muita saltenha com caldo da cana. Pode ser isso, pode sim!