A historinha objeto dessas mal traçadas de hoje me foi contada pelo Elpídio Rodrigues, o Dô, cracaço do futebol de salão/futsal acreanos, do finalzinho da década de 1970 até a primeira metade da década de 1990. Tão craque que os seus fãs costumavam chamá-lo de “o pivô das multidões”.
A historinha se passou em Manaus, numa época em que havia um intercâmbio muito grande entre os esportes de quadra do Acre, com destaque para o futebol de salão, com os estados do Norte do Brasil. Tanto os times do Acre saíam para jogar fora de casa quanto recebiam equipes visitantes.
Era uma época também em que a Zona Franca de Manaus estava em plena efervescência, com um catálogo de importados de dar inveja aos estados vizinhos. Tudo muito barato e de qualidade. Todo mundo que ia à capital amazonense saía de lá com a bagagem cheia de produtos estrangeiros.
E havia uma galera que gostava de fazer “marretagem”. Traduzindo: comprar em Manaus, com os preços lá embaixo, para revender em Rio Branco. Era uma atividade, aliás, que dava uma ótima margem de lucro. Esses marreteiros tinham até clientela fixa, gente que comprava por encomenda.
Os produtos objeto da “marretagem” eram os mais variados possíveis. Desde aparelhos de som até toca-fitas para carro, passando por revistinhas pornográficas, pílulas para estimular a virilidade masculina, baralhos com figuras de mulheres nuas, camisetas de marca, perfumes, tênis… etc. e tal.
Havia um problema: o valor permitido para a liberação dos produtos pela alfândega. Como a cota era pequena, os marreteiros precisavam dar um jeito, dividindo os produtos pelas mãos de amigos que viajavam juntos. Nesse sentido, a viagem de uma delegação era uma situação perfeita.
Então, numa dessas oportunidades, quando um time acreano de futebol de salão foi jogar em Manaus, um dos integrantes (o Dô disse o nome, mas eu não vou revelar) resolveu investir as economias em “muamba”. Material que ele dividiria com os amigos para poder passar na alfândega.
Eis que, chegando a uma loja de departamentos, bem no meio da Zona Franca, desses locais sortidos, do tipo que vende até cabeça de alfinete, um suposto funcionário do local abordou o marreteiro dizendo que podia agilizar as compras. Que o marreteiro lhe desse o dinheiro e que o esperasse na porta.
Para garantir que o “funcionário” não ia dar-lhe um drible, o marreteiro tratou de postar vários membros da delegação na frente da loja. Só duas horas depois é que se descobriu que a loja tinha uma porta dos fundos. Prejuízo total: todo o dinheiro do marreteiro foi para o espaço!