Decorridos 50 anos desde aquele dia em que a seleção brasileira de futebol sagrou-se tricampeã mundial, nos gramados mexicanos, ao derrotar a Itália por 4 a 1, eu lembro como se tudo tivesse acontecido ontem. Eu tinha 13 anos de idade e cursava a terceira série ginasial no Colégio dos Padres.
A data dessa conquista exponencial foi comemorada nesse domingo que recém passou, 21 de junho. Por isso, eu estou aqui fazendo esse exercício de lembrança já um tanto remota e, de certa forma, me surpreendendo em como a memória da gente grava algumas coisas e esquece outras tantas.
Não existia emissora de televisão no espaço territorial acreano naqueles idos de 1970. Esse veículo de comunicação de massa só chegou ao estado em 1974. E então, a gente acompanhava as evoluções dos nossos super craques através do rádio. Nossa empolgação era a dos narradores.
Da noite anterior ao jogo, o que eu mais lembro foi da insônia que me acompanhou até alta madrugada. Eu queria que aquela noite passasse rapidamente… Queria acelerar o tempo… O problema, numa situação assim, é que, de forma diametralmente oposta, os minutos teimam é em não passar.
A campanha do Brasil era perfeita até então: cinco vitórias em igual número de jogos: 4 a 1 na Tchecoslováquia, 1 a 0 na Inglaterra, 3 a 2 na Romênia, 4 a 2 no Peru e 3 a 1 no Uruguai. Um retrospecto pra lá de animador, que enchia os torcedores nativos de muito ânimo e esperança.
O retrospecto, porém, não garante nada, em se tratando de futebol. O exemplo maior disso, falando da própria seleção brasileira, havia acontecido 20 anos antes, no Maracanã. O Brasil também havia arrasado os adversários em 1950 e, no entanto, sucumbira na finalíssima frente ao vizinho Uruguai.
No colégio, depois da semifinal, que foi disputada no dia 17 de junho, uma quarta-feira, as conversas só giravam em torno do jogo contra a Itália. Foi feito até um bolão, com apostas de baixo valor. Valia mais pelo prazer do palpite. Desconfiado, marquei 2 a 1 para o Brasil. Perdi (com prazer)!
Na hora do jogo, eu me sentei no chão, ao pé de um enorme rádio Semp, à pilha, que o meu pai, Alício Pinheiro, havia comprado uns meses antes. Aquele receptor era um dos xodós do meu pai, que quase todos os dias o sintonizava na Voz da América. Por algumas horas, o rádio foi meu!
No fim das contas, o que a história registrou para o mundo foi uma exibição do mais alto nível técnico de uma seleção nacional. Os italianos nem viram a bola. No caso do meu registro pessoal, além da emoção, restou uma grande ressaca. O vinho da comemoração era de péssima qualidade!