Quando pendurou o apito no ano de 2018, o acreano de Rio Branco Carlos Ronne Casas de Paiva (chamado de Piolho no começo da carreira) contabilizava nada menos do que 19 anos como árbitro de futebol. Tempo que lhe rendeu inúmeras histórias e vários prêmios. De estilo durão e um tanto espalhafatoso, ele teve a chance de atuar em vários estádios brasileiros.
No início da sua trajetória esportiva, porém, Ronne Casas sequer imaginava que um dia estaria no centro de um gramado dirigindo uma partida de futebol. Na adolescência, aí pelo final da década de 1980 (ele nasceu no dia 6 de março de 1973), o que ele queria mesmo era ser jogador. E chegou a exibir os seus dotes como goleiro do time de juniores do Vasco da Gama.
Um pouco depois dessa época, já nos primeiros anos da década de 1990, Ronne Casas andou dando suas pernadas no time profissional do próprio Vasco. Mas aí já na condição de lateral-direito. A decisão de mergulhar fundo nas regras do futebol só foi tomada depois de ele passar um jogo inteiro duvidando das marcações de um árbitro chamado Cebolinha.
Ronne Casas, então, tratou de guardar as chuteiras no armário e se matriculou num curso de arbitragem promovido pela Federação de Futebol do Acre, cujo instrutor era o ex-árbitro Wanderley Coelho. Corria o ano de 1999 e tão logo encerrada a preparação Ronne Casas já foi escalado, pelo diretor Wagner Cardoso, para trabalhar em jogos do campeonato estadual.
Espelhos profissionais e ascensão nacional
Dois árbitros serviram como os principais exemplos para determinar o comportamento de Ronne Casas dentro do campo: Marcos Antônio Barros Café, em nível local, e Sávio Espíndola Fagundes Filho, em nível nacional. O primeiro, de acordo com Ronne, pelo rigor com que apitava as partidas, “sempre em cima do lance”. E o segundo pelo excelente nível técnico.
Tantos bons exemplos, mais uma boa dose de dedicação à nova atividade, fizeram com que Ronne logo fosse alçado à condição de integrante do quadro de árbitros da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). E então, um ano depois de debutar como mediador, ele já foi escalado para um jogo de uma competição promovida pela entidade máxima do futebol nacional.
“Eu lembro da minha estreia em campeonatos nacionais como se fosse hoje. Foi um jogo entre Rio Branco e Baré, no Estádio José de Melo, pela Copa João Havelange. O Rio Branco venceu com um gol no final, marcado pelo jogador Bertoldo. E eu me conduzi tão bem que já fui escalado para apitar, em seguida, um jogo em Manaus pela Copa do Brasil”, disse Ronne.
Quis o destino que a despedida de Ronne Casas das competições nacionais também acontecesse numa partida realizada no Norte do Brasil. Mais precisamente no interior da Amazônia, em janeiro de 2018. “Foi num jogo pela Copa Verde, em Manacapuru, entre Princesa do Solimões e Interporto, do Tocantins. Placar de 2 a 0 para os visitantes”, falou Ronne.
Alegria, decepção e algumas confusões
Como tudo na vida, o futebol proporciona alegrias e decepções para os seus personagens. No caso de Ronne Casas, ele falou que a sua maior alegria foi ter sido escalado como auxiliar para o jogo entre Atlético-MG e Figueirense, pela série A, em 2014. Em compensação, ele disse que não ser escalado como árbitro principal da mesma série lhe causou profunda tristeza.
Se ele alguma vez se envolveu em confusões enquanto árbitro? “Muitas vezes. É praticamente impossível a gente passar por essa profissão sem viver algumas situações de profundo conflito”, explicou Ronne Casas. Ele destacou duas dessas situações. Na primeira, ele sofreu uma tentativa de suborno. Já na segunda, a confusão foi num amistoso internacional.
“A tentativa de suborno aconteceu quando de um jogo entre Atlético-GO e Mixto-MT, pela série C de 2011. Como o meu celular tem um recurso de gravação, eu ouvi a proposta do cidadão e entreguei para o presidente da federação do Acre. E sobre o amistoso, foi um jogo entre Rio Branco e Bolívar. Um boliviano veio pra cima de mim e eu revidei”, afirmou Ronne.
Vinte e um anos depois de trilar o apito pela primeira vez, tudo agora são lembranças. Daqui pra frente, Ronne só quer cuidar da família, fazer comentários esportivos no rádio, bater peladas no Clube dos Vinte e retornar às aulas que ele ministra em cursos do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial. “Assim que passar a pandemia, a gente volta com tudo”, concluiu o ex-árbitro.