O eclético Jorge Cubu em foto atual

Jorge Cubu – Coringa, craque “do Amor Divino” jogou em todos os grandes clubes do Acre

Francisco Dandão

Quando um dia alguém for escrever a biografia do senhor Sebastião Jorge do Amor Divino, mais conhecido como Jorge Cubu, vai ter que dizer que ele foi um dos jogadores mais versáteis do futebol acreano. Isso porque ele foi uma dessas raras criaturas capazes de jogar em várias posições, sempre no mais alto nível, defendendo e atacando com a mesma eficiência.

Nascido no dia 4 de novembro de 1968, desde as primeiras peladas, a partir dos 13 anos, em todos os campinhos do Segundo Distrito de Rio Branco (Marreta, Papoquinho, Sesi etc.), Cubu (apelido que ganhou no próprio âmbito doméstico) demonstrou uma habilidade incomum, bem como uma incrível capacidade para se adaptar aos mais variados setores do campo.

Mas apesar das suas qualidades, Jorge Cubu só foi vestir a camisa de um time de primeiro nível do futebol acreano aos 19 anos, no primeiro semestre de 1988. Ele estreou nos juniores do Atlético Acreano, levado para o terreiro do Galo pelo dublê de zagueiro e treinador Cleiber, ficando por duas temporadas como dono de uma das vagas do setor de criação do time.

 “Pra falar a verdade, como eu não participei de atividades de escolinhas, foi uma surpresa pra mim o convite do professor Cleiber para integrar os juniores do Atlético. Na época em que ele me chamou para o Galo eu estava jogando no Guarani da [bairro] Cidade Nova. Fiquei até um pouco nervoso no primeiro treino. Mas logo me enturmei”, disse Jorge Cubu.

Ascensão para o time principal e outras camisas

No mesmo ano em que chegou nos juniores do Atlético, Jorge Cubu passou a frequentar o banco de reservas do time principal, requisitado pelo técnico Roberto Araújo. Mas aí começou a ciranda de posições do jovem “coringa”. Roberto Araújo entendia que o porte físico do jogador o credenciava para ser atacante. E então começou a escalá-lo na linha de frente.

O Atlético foi só a vitrine que projetou Jorge Cubu para os holofotes do futebol acreano. Logo a técnica daquele atleta longilíneo, de pele escura, chamou a atenção dos dirigentes dos outros clubes grandes. Como em 1989o futebol acreano passou do regime amador para o profissional, ao fim de cada temporada os jogadores poderiam escolher com quem assinar contrato.

Dessa forma, já em 1992 Jorge Cubu iniciou a sua troca de camisas, jogando sucessivamente, por Rio Branco, Atlético (outra vez), Juventus e Independência, até pendurar as chuteiras, em 2001, aos 33 anos. Tempo suficiente para ser campeão estadual quatro vezes: duas pelo Rio Branco (1992 e 1994), uma pelo Juventus (1996) e uma pelo Independência (1998).

Guarani (Cidade Nova) – 1988. Em pé, da esquerda para a direita: Luecildo, Tonheira, Tonho Pitomba, Valmir, Jorge Cubu e Basílio. Agachados: Kim, Josué, Ricardo, Gilvan e Márcio Alves. Foto/Acervo Jorge Cubu.

 

O mais curioso dessas passagens vitoriosas pelo quatro grandes clubes do Acre foi que em cada um deles Jorge Cubu jogou numa posição diferente. No Atlético ele jogou de atacante; no Rio Branco ele foi lateral e zagueiro; no Juventus ele foi volante; e no Independência ele atuou como zagueiro e lateral. “Eu só não topava mesmo era jogar no gol”, explicou o ex-atleta.

Atlético Acreano – 1993. Em pé, da esquerda para a direita: Sérgio Ricardo, Dodi, Oton, Francislei, Nego e Arimatéia. Agachados: Marcelinho, Jorge Cubu, Joãozinho, Hélio e César. Foto/Acervo Francisco Dandão
Juventus – 1996. Em pé, da esquerda para a direita: Sorriso (massagista), Carlos, Ico, Nego, Valtemir, Gualter Craveiro (técnico), Hélio, Josman, Jorge Cubu, Alex e Messias (preparador físico). Agachados: César, Adriano Louzada, Sairo, Tinda, Ney, Marquinhos, Chinha e Jorge Luís. Foto recolhida na internet.
Juventus – 1996. Em pé, da esquerda para a direita: Carlos, Ico, Valtemir, Gualter Craveiro (técnico), Jorge Cubu, Hélio, Messias (preparador físico) e Sorriso (massagista). Agachados: César, Adriano Louzada, Sairo, Tinda, Ney e Nego. Foto/Manoel Façanha

 

Um gol inesquecível e os melhores do Acre

Mesmo quando não era escalado como atacante, Cubu costumava fazer os seus gols. Um desses, ele disse ser inesquecível. “Foi jogando pelo Independência, contra o Rio Branco. Nesse dia eu estava atuando de lateral-esquerdo. Numa das minhas descidas ao ataque, eu sofri uma falta e fui para a área. O Pitiú cobrou na minha cabeça e eu mandei para a rede”, disse Cubu.

Independência – 1998. Em pé, da esquerda para a direita: Jairo, Alan, Jorge Cubu, Jorge, Valtemir e Carlos. Agachados: Siqueira, Edilsinho, Mundoca, Artemar e Redson. Foto/Acervo Manoel Façanha
Independência – 1999. Em pé, da esquerda para a direita: Jorge Cubu, Milson, Dedé, Klowsbey e Redson. Agachados: Claudinho, Papelim, Artemar, Getúlio, Marquinho Paquito e Dênis. Foto/Acervo Manoel Façanha.

 

Sobre grandes personagens do futebol acreano, Jorge Cubu citou os jogadores Klowsbey, Toninho, Chicão, Cleiber, Sérgio Cabeção, Gilmar, Tinda, Carlinhos Bonamigo, Dim, Ley e Artur. “Todos craques”, afirmou. Já os postos de melhor técnico, dirigente e árbitro, na opinião do ex-coringa, foram ocupados, respectivamente, por Nino, Moreira e José Ribamar.

Quanto à situação do futebol acreano na atualidade, Cubu foi taxativo. “O futebol hoje no nosso estado está muito aquém àquele praticado nos grandes centros. Nesse sentido, um garoto que queira seguir carreira tem que ser muito determinado e focar bastante no seu objetivo. E no que diz respeito aos clubes, se não criarem uma boa estrutura, não sairão do lugar”, afirmou.

Embora tenha parado de jogar por conta de um problema nos joelhos, Jorge Cubu até hoje bate as suas peladinhas com os amigos. No que diz respeito à sua ocupação profissional, ele trabalha no setor de reprografia do Ministério Público Federal. E no tocante ao futuro imediato, ele disse que só quer “ver logo passar a pandemia do covid-19 para a vida voltar ao normal”.