Lembranças do Abacate

Pelo nome próprio, aquele lavrado no registro de nascimento, Francisco Araújo de Souza, provavelmente ninguém (ou muito poucos) o conhecia. Mas se alguém, principalmente no bairro Seis de Agosto e adjacências, se referisse ao Abacate, aí todos sabiam de quem se tratava.

Eu o conheci no primeiro semestre de 1972, quando, aos 15 anos, fui tentar a sorte na equipe de juvenis do Rio Branco. Eu gostava de jogar futebol. Já ensaiava uns primeiros chutes num time de futebol de salão do Colégio dos Padres e havia recém integrado o infantil do Independência.

Juntando tudo isso ao fato de que eu passara a estudar no período noturno, bem como a proximidade de onde eu morava (bairro da Capoeira) do Estádio José de Melo, então os juvenis do Rio Branco era o meu caminho natural. Uma vaga no setor de meio campo do Estrelão era o que eu almejava.

Eu sequer tinha uma chuteira. Dessa forma, participei do primeiro treino calçado com um tênis Conga (os mais velhos sabem do que eu estou falando). Uma temeridade, levando em conta que o solado liso do tênis exigia um verdadeiro malabarismo para manter uma criatura em pé sobre a grama.

No final desse primeiro treino, eu soube que havia sido aprovado porque o roupeiro Quintino me entregou um par de chuteiras da marca Gaeta. Como não poderia deixar de ser, eram chuteiras usadas e cheias de pequenos pregos salientes. Nada, porém, que não pudesse ser devidamente contornado.

A idade limite para jogar nos juvenis naquele tempo era de 20 anos. Aos 15, dificilmente eu conseguiria uma vaga no time titular. Além de não jogar essa bola toda, eu era menos encorpado que a maioria dos outros candidatos a craque. E assim, joguei muito pouco durante o correr do ano.

Entre os meninos mais velhos, que já jogavam no Rio Branco há algum tempo, estava o Abacate, titularíssimo do comando de ataque dos juvenis. Um ataque poderoso que, na maioria das vezes, formava com Guino (apelido do Otávio Louzada), Abacate, Teinha e Zé Humberto (o famoso Zé Garça).

O Abacate, habilidoso, veloz e goleador, era tratado como uma jóia rara. Estava sendo trabalhado para entrar a qualquer momento no time principal. E até andou mesmo jogando no time de cima. Mas como ponta direita, pela sua baixa estatura. Ele, porém, não repetiu o sucesso dos juvenis.

Aí, como não gostava de ficar na reserva, resolveu um dia se mudar para o pequeno Floresta, onde já estavam outros futebolistas do bairro Seis de Agosto. Ficou uns tempos por lá, depois foi cuidar de fazer outra coisa na vida. E sábado passado, ele partiu para o infinito. Que descanse em paz!