Manga, o artilheiro

Vendo essas goleadas que aconteceram no returno do campeonato acreano (principalmente Galvez 7 a 0 no São Francisco, Rio Branco 7 a 1 no Vasco, e Humaitá 8 a 0 no São Francisco), não posso deixar de lembrar uma história que me foi contada pelo editor e meu afilhado Manoel Façanha.

O personagem da história se chamava Manga. Não se sabe ao certo se esse Manga era sobrenome, em homenagem a um antigo goleiro do Botafogo, que chegou a jogar pela seleção brasileira, ou se era por conta da preferência da criatura pela fruta da mangueira, abundante na Amazônia.

Enfim… Prolegômenos totalmente à parte, o certo é que o Manga, na segunda metade da década de 1980, reinava absoluto entre os artilheiros do campo do Maracutaia, situado nas imediações da Fundação do Bem-Estar Social do Acre (Funbesa), no bairro Estação Experimental, em Rio Branco.

De boa estatura, ele tanto tinha alguma técnica quanto força física para fazer gols. Reza a lenda que o Manga alternava jogadas driblando zagueiros, com outras trombando tudo. Quando usava a técnica, o comparavam ao Zico. Quando ia na força, o chamavam de Beijoca (aquele do Bahia, lembram?).

De acordo com o Façanha, vinha gente de longe para ver os atributos do artilheiro Manga. E ele não negava fogo. Fazia gols por cima de gols e de todos os jeitos: de cabeça, de bicicleta, de canela, de barriga (como o Renato Gaúcho), de letra, chutando com o pé esquerdo, com o pé direito… Ufa!

E todos os que o viam concordavam num ponto: o Maracutaia e a Estação Experimental logo ficariam pequenos para tanta vocação ofensiva. Ainda mais que o local sempre foi tido como um celeiro de craques. É certo que dali saíram vários jogadores para os grandes clubes do futebol acreano.

O tempo ia passando, porém, e nada de Juventus, Atlético, Rio Branco e Independência se interessarem pelo futebol do artilheiro. Na contabilidade dos amigos, o Manga já havia passado há muito tempo a marca do rei Pelé em número de gols marcados. Desistiram até de contar depois dos 1.500.

Eis que, então, um dia, o dirigente Zé Carlos, do pequenino Floresta, convidou o Manga para comandar o ataque do time esmeraldino. O Manga topou convencido de que ali estaria a chance de provar o seu valor aos cartolas dos chamados clubes grandes. Eles que tratassem de aguardá-lo.

Veio a estreia, contra o Juventus. Manga com uma chuteira brilhando de graxa. Os fãs nas arquibancadas. Aí a casa caiu. Ele pegou na bola só 11 vezes. Todas para bater o centro. O Floresta perdeu por 10 a 0.  Ele pendurou as chuteiras. Nem foi mais para a pelada. Dizem que virou pastor evangélico!