Maré de azar

Tem muita gente que não acredita nessa coisa de sorte e azar. Para esses que não acreditam, tudo é uma questão de escolha. Ou seja, tudo acontece na vida de acordo com as atitudes de cada um. Mas tem um bocado de criaturas, por outro lado, que sequer sai de casa sem se benzer antes.

No meu caso, eu tento dormir só com um olho fechado, prestando atenção tanto na missa quanto no sacristão. O outro olho permanece sempre aberto. Penso que não custa nada bater na madeira três vezes para espantar os piores fluídos. Ou acreditar em bruxas, ainda que elas possam não existir.

Mas eu estou com esse papo aranha de hoje porque lembrei uma história que me foi repassada pelo Marcelinho Melo, atacante que fez história no futebol acreano na década de 1990. Uma história de azar que aconteceu com o time da Associação Desportiva Senador Guiomard, a gloriosa Adesg.

De acordo com o Marcelinho, corria o ano de 1998 e o prefeito de Senador Guiomard entendeu que a Adesg, representante da cidade no campeonato acreano de futebol profissional, deveria sonhar alto e disputar o título da temporada de igual pra igual com os clubes considerados favoritos.

E aí, o passo seguinte para concretizar o sonho de, quem sabe, levar o título para a “terra do amendoim”, a simpaticíssima Quinari, foi contratar uma penca de boleiros na capital Rio Branco. Quinze jogadores famosos, entre os quais o próprio Marcelinho, foram contratados quase a peso de ouro.

Para a função de goleiro, entendendo que todo time que pretende alguma coisa tem que ter um craque na posição, foram contratados logo três jogadores. Cada um melhor do que o outro: Mococa, Walter e Wilson. Um duelo de gente grande para ver quem teria a honra de ser o cara titular.

Pois muito bem. Em princípio, ficou estabelecido que o titular seria o Mococa. Mas a titularidade não durou muito. Num simples treino coletivo, Mococa levou uma pancada na altura dos rins. Teve que ser hospitalizado às pressas. E, infelizmente, não resistiu, vindo a óbito algum tempo depois.

No infortúnio do Mococa, o primeiro reserva Walter assumiu a posição. Sobreveio nova sessão de treinos e o dito cujo, ao cair de mau jeito, depois de uma defesa acrobática, estourou o joelho. Aí assumiu o posto Wilson, a terceira opção. Um jogo bastou para Wilson quebrar um dedo.

E agora? Não existiam mais goleiros disponíveis na praça. A solução foi convencer o aposentado Dorielson para voltar aos gramados. Mas ele um dia caiu do caminhão que levava os atletas para o Quinari. O azar só acabou, conta-se, depois que dirigentes fizeram uma promessa com São Sebastião!