Histórias do Marcelinho

Depois da publicação, semana passada, da minha crônica falando de estratégias extra-campo e antidesportivas, utilizadas por determinados malandros para diminuir (ou anular) as possibilidades de vitórias dos adversários, alguns ex-atletas fizeram contato falando das suas experiências.

Entre várias narrativas, escolhi duas, ambas vividas pelo Marcelinho, atacante arisco, do tipo que corria pelas beiradas do campo e que durante 11 anos (1990 a 2000) desfilou sua arte nos gramados do Acre por nada menos do que cinco equipes: Juventus, Independência, Atlético, Adesg e Andirá.

As duas histórias aconteceram quando Marcelinho defendia o Juventus, clube cheio de bossa e futebol vistoso, que costumava viajar em pequenas excursões para onde quer que fosse convidado. Podia ser um pequeno vilarejo, no interior da pedra lascada, que o Juventus se mandava.

E então, como o Juventus não enjeitava parada, choviam convites para o time se apresentar aqui, ali e acolá. Principalmente, deve-se ressaltar, quando o Clube da Águia levantava a taça do certame estadual, o que era de fato corriqueiro, tanto no tempo do amadorismo quanto na era profissional.

Vai daí que em 1990, uns dias depois de se sagrar bicampeão estadual, o Juventus foi convidado para jogar na cidade boliviana de Riberalta, no departamento de Beni. Além de querer ver de perto o time acreano, os bolivianos tencionavam provar que a bola de lá era melhor do que a de cá.

De acordo com o Marcelinho, os “patrícios” receberam a delegação do Juventus com a maior fidalguia. Sorriam com os dentes cheios de ouro e se desdobravam em gentilezas. Até que veio a hora do almoço, onde o prato mais bonito e convidativo era uma maionese, daquelas de lamber os beiços.

O Marcelinho e alguns parceiros, sabedores que não se pode confiar muito em papo de boliviano, acharam aquilo bem esquisito e evitaram tocar na maionese, limitando-se a comer umas bolachas que haviam levado na mochila. Foi a sorte. Quem comeu a maionese passou dois dias no banheiro.

Cinco anos depois, em 1995, novamente campeão estadual, o Juventus foi convidado para receber as faixas num jogo contra a seleção da cidade de Capixaba. Aí não teve comida estragada não. A questão é que o almoço só foi servido às 13h30m., sendo que o jogo estava marcado para às 14h.

“Nós saímos, literalmente, do restaurante para o campo, nesse dia lá em Capixaba. No primeiro tempo, praticamente ninguém aguentou correr. Só não levamos um couro deles porque o nosso time tinha muita qualidade e a gente ficou só tocando a bola. No final deu empate”, disse o Marcelinho.