O zagueiro Josué durante treino na Fazendinha na temporada 2006. Foto/Manoel Façanha.

Josué – Um zagueiro de cinco camisas e dois títulos no futebol profissional

Francisco Dandão

Aos 11 anos, no primeiro semestre de 1984 (ele nasceu no dia 11 de fevereiro de 1973), Josué Antunes Ribeiro Aguiar já despontava como um dos meninos mais habilidosos da pelada de todas as tardes na Praça do Oscar (churrascaria). Por essa condição, ninguém estranhou quando ele foi levado pelo professor Marcos Maghetty, em 1986, para o infantil do Juventus.

Atacante de origem, Josué foi migrando para as posições defensivas, até virar zagueiro, depois de um tempo atuando como lateral-direito. Isso ainda com a camisa do Juventus. Quando migrou, como juvenil, para, sucessivamente, Independência e Atlético Acreano, a jovem promessa de craque não tinha dúvida que encontrara em definitivo o seu lugar no campo.

A ascensão de Josué para a condição profissional aconteceu aos 19 anos, no Atlético, no início do ano de 1993. Quem o promoveu foi o técnico Júlio Paulo D’Anzicourt. Junto com ele subiram outros três jogadores do time de juniores do Galo: o meio-campista Standang, o lateral Fabiano e o atacante Radares. Dos quatro, só Josué conseguiu se firmar no time de cima.

“Nós fomos promovidos num momento em que o Galo tinha um elenco profissional bem pequeno. Mas quando eu subi, não fui logo jogando. Tive que esquentar o banco de reservas por algum tempo. Fui entrando aos poucos. O titular na minha posição era o Nego, irmão do Dim e do Ley. Minha estreia foi contra o Andirá e nós ganhamos por 2 a 0”, disse Josué.

Juventus (infantil) – 1986. Em pé, da esquerda para a direita: Diogo Elias (diretor), Marcus Maghetty (técnico), Gilbert, Arthur, Jamerson, Dão, Emerson, Jader, (…) e Ary. Agachados: Josué Kaki, Crispim, Cesinha, Leny, Wesley, Zé Roberto e Marquinhos. Foto/Manoel Façanha.

As outras camisas e os títulos

Vasco da Gama – 2001. Em pé, da esquerda para a direita: Serginho, Tucho, J. Maria, Feijão, Evilásio, Ciro, Léo, Josué, Gato, Ferreira e Faísca. Sentados: Marcelo Altino (técnico), Raimundo Nonato (presidente), Raimundo Ferreira (diretor de futebol), Dário, Mamude, Siqueira, Paulinho, Cleiton, Marquinhos Calafate e Adélcio (massagista). Agachados: Selcimar Maciel (preparador físico), Marquinhos Paquito, Jean, Celso, Léo Casas (mascote) e Lobinho (roupeiro). Foto/Manoel Façanha.

De 1993 a 2009, quando pendurou as chuteiras, aos 36 anos, além do Atlético Acreano, no começo da carreira, Josué vestiu as camisas de Vasco da Gama, Juventus, Independência, Rio Branco e, novamente, do Atlético, encerrando a carreira no mesmo lugar onde foi lançado profissionalmente. Nesse período, levantou a taça de campeão estadual duas vezes: Vasco (2001) e Rio Branco (2005).

Vasco da Gama – 2003. Em pé, da esquerda para a direita: Josué, Ferreira, Tom, Bigal, Evilásio e Edinho. Agachados: Mamude, Alcione, Babá, Léo e Marquinhos Paquito. Foto/Manoel Façanha.

Mas os títulos não foram somente esses. Anteriormente, na época das divisões de base, o ex-zagueiro já havia sido campeão outras três vezes por Juventus, Independência e Atlético. E fora isso, ele ergueu mais oito taças nos campeonatos de amadores do bairro Calafate, sendo quatro pelo União do Calafate, três pelo Cruzeiro do Aviário e um pelo Seis de Agosto.

“Eu era muito fominha. Quando parava o campeonato profissional, eu tratava de arranjar uma vaga nos campeonatos amadores da periferia. O que eu queria era estar jogando bola. E não havia conflito de interesses ou quebra de contrato com os times profissionais porque o campeonato acreano ocupava um período muito pequeno do ano”, explicou o ex-zagueiro Josué.

Na temporada 2003, o zagueiro/capitão Josué vai ao ataque na busca de furar a defesa juventina. Foto/Sérgio Valle.
Independência – 2004. Em pé, da esquerda para a direita: Alcione, Tom, Djailton, Tidalzinho, Genival, Mássimo, Maxsuel, Josué, Victor e Cley. Agachados: Bigal, Tonho Cabañas, Alcione, Léo, Jota Maria, Barcley e Estevam. Foto/Manoel Façanha.
Então capitão tricolor, Josué recebe o troféu do Torneio Início/2004 “Bruno Couro Velho” das mãos de Edilsinho. Foto/Acervo Manoel Façanha.
O capitão tricolor Josué e demais jogadores do Independência comemoram o título do Torneio Início de 2004. Foto/Manoel Façanha.

“Provavelmente”, continuou Josué, “por conta dessa minha fome de bola, eu até tivesse jogado muito mais tempo. Só parei mesmo por conta de dois fatores: a minha atividade como funcionário público, que dificultava o meu comparecimento aos treinos, e as lesões que passaram a me perseguir. Chegou um momento que eu comecei a me lesionar muito. Aí resolvi parar.”

Os bons parceiros e as grandes alegrias

Josué elegeu quatro jogadores como os grandes parceiros do seu tempo de bola: Faísca, Siqueira, Ciro e Juscelâneo. “Com esses aí, eu me entendia à perfeição, principalmente dentro das quatro linhas”, garantiu o ex-zagueiro. E como os adversários que davam mais trabalho, ele citou Tangará, Juliano César e Ricardinho. “Atacantes extremamente perigosos”, declarou.

Rio Branco – 2005. Em pé, da esquerda para a direita: Acosta, Sacatiol, Erismeu, Nego Cajazeira, Josué, Val Manaus, Tidalzinho e Amarilzon. Agachados: Ananias, Ley, Neib, Léo, Enock, Pitiú, Marquinhos Calafate, Paulinho e Tonho Cabañas. Foto/Manoel Façanha.

Sobre os momentos de maior euforia, Josué lembrou de duas passagens. A primeira, num jogo pelo Vasco, contra o Nacional-AM, no antigo estádio Vivaldão, lotado. O Vasco perdeu de 4 a 3, mas o ex-zagueiro fez um belo gol, cabeceando “de peixinho”. E a segunda, na decisão do campeonato de 2001, quando o Vasco venceu o Rio Branco, na prorrogação.

No estadual de 2009, o zagueiro Josué (ao fundo) vestiu a camisa do Atlético-AC. Foto/Sérgio Valle.

Quanto aos melhores do futebol acreano, Josué escalou sua seleção com Klowsbey; Marquinho Amarelo, Paulão, Neórico e Sabino; Gilmar, Carlinhos Bonamigo e Mariceudo; Dim, Gil e Ley. Melhor dirigente: Raimundo Ferreira, “pela seriedade”. Técnico: Ulisses Torres, “pela boa leitura do jogo”. Árbitro: Neuricláudio, “pelo respeito com os jogadores”.

Funcionário público do setor da saúde, onde exerce um cargo de direção, Josué, à guisa de conclusão, disse que não descarta, no futuro, trabalhar como diretor de futebol de algum clube do Acre. Mas, antes, falou que gostaria de ver uma melhoria dos investimentos nas divisões de base dos times locais. “Não é possível se tornar competitivo sem dinheiro”, finalizou.

 

Fac símile da página do Jornal Opinião – 27 de novembro de 2020 .