Representante de um estado onde predominam as pessoas de pele negra, gente descendente na sua maioria de africanos trazidos para o Brasil como escravos, o glorioso Esporte Clube Bahia acabou, involuntariamente, envolvido na mais recente acusação de racismo do futebol brasileiro.
Digo “involuntariamente” porque não se pode responsabilizar o clube pela suposta atitude de um dos seus jogadores. A direção do Bahia, aliás, dando provas de que não compactua com tal abjeção, agiu rápido e afastou o seu jogador (que nem sequer é brasileiro), até que se apurem os fatos.
O imbróglio começou na tarde de domingo no Maracanã, estádio onde inúmeros jogadores negros já fizeram delirar milhões de torcedores: Didi, Pelé, Garrincha, Domingos da Guia, Barbosa, Jairzinho, Paulo César Caju, Silva, Neymar, Ronaldinho Gaúcho… A relação poderia ir até o infinito.
De acordo com o depoimento do ofendido, o meio-campo Gerson, do Flamengo, lá pelas tantas o colombiano Ramirez, do Bahia, no calor de uma discussão, sapecou a seguinte frase recheada de preconceito: “Cala a boca, negro!” Gerson não se calou. Ao contrário: tratou foi de falar mais alto.
Levando-se em conta que já vivemos os últimos dias do mês de dezembro, provavelmente tenha sido a última confusão racista do futebol brasileiro neste ano de tanta dor. Provavelmente! Mas, com absoluta certeza, quando começar o novo ano, outros casos semelhantes tornarão a acontecer.
O racismo está arraigado na maioria dos países do mundo. E, no meu entender, a única maneira de fazer o ser humano compreender que a cor da pele não estabelece nenhuma diferença entre uns e outros é pela via da educação. E isso é impossível de acontecer assim de um dia para o outro.
No caso do futebol, eu acho que a solução rápida passa pelo caminho da punição: crime e castigo. Provado o delito, o criminoso pegaria um “gancho” de vários jogos e ainda ficaria condicionado a só jogar depois de pagar um valor ao ofendido. Os reincidentes seriam banidos do esporte.
Se a agressão racista partir da torcida, caso o agressor seja identificado, penso em algo parecido: cadeia por um tempo e indenização para o ofendido. Caso o agressor não seja reconhecido, que o time mandante passe meses com os portões fechados, jogando para arquibancadas vazias.
O que não pode acontecer é tudo continuar como sempre. Muito menos o sujeito se esconder atrás de uma confusão linguística e afirmar que falou outra coisa. Nesse caso do Gerson, o gringo disse que falou “jogue sério, irmão” e não “cala a boca, negro”. Seria cômico se não fosse trágico!