Em dezembro do ano passado eu estive batendo pernas durante uma semana pela belíssima e sedutora cidade colombiana de Cartagena de Índias, às margens do Oceano Atlântico, na região do Caribe. Lugar incrível que respira tradição sem perder o contato com a pós-modernidade. Um desses lugares que dá uma imensa vontade de voltar (ou ficar por lá).
Não bastassem as belezas e atrações turísticas de Cartagena de Índias, rodeada de areias branquíssimas e águas tão plácidas quanto cristalinas, ainda faz morada por ali um povo extremamente simpático que adora uma boa prosa com os visitantes. O mundo passa por Cartagena desde 1533, quando o espanhol Pedro Heredia lançou-a rumo à luz!
Se o visitante for brasileiro, então, a prosa se anima e estende enquanto o fôlego der e o sono deixar. Os colombianos demonstram adorar os brasileiros. Negros como nós, em boa parte, e explorados pelos colonizadores, como nós, em grande parte, eles cultivam, também como nós, pés de café, indolência e uma paixão a toda prova pelo futebol.
E foi por conta de todas essas convergências que eu fiz amizade temporária com uma porção deles durante a minha breve estada em Cartagena de Índias. Quando os meus interlocutores descobriam que eu era brasileiro, a porta da comunicação se escancarava. E eles queriam saber tudo da nossa seleção, garantindo que ainda éramos os melhores da Terra.
No dizer de muitos daqueles amáveis colombianos com os quais eu conversei, o seu ideal de felicidade para a Copa do Mundo do ano seguinte seria uma final entre Brasil e Colômbia. Para eles seria inesquecível ver Neymar de um lado e Falcão Garcia do outro. Craques fora de série, ambos atacantes, os dois vertiginosamente verticais… Espetáculo e êxtase!
O tempo, eternamente enredado em nossas pernas e suspiros, passou e o desejo de uma partida do mundial entre Brasil e Colômbia se confirmou. O que não se confirmou foi o duelo entre Neymar e Falcão Garcia. Este último, dispensado por conta de uma contusão. E não se confirmou também a fase do encontro, marcado para bem antes da final.
Os dados do destino rolaram no tapete verde do gramado e fizeram Brasil e Colômbia se encontrarem nas quartas de final da Copa do Mundo de 2014, nesta sexta-feira (4 de julho). Por enquanto uns e outros ainda embalam a ilusão e a esperança. Reparte-se o tudo e o nada. Ciclo rumo ao céu ou ao abismo. Almas sofrendo de excessos e angústias. Flui o instante!
E assim, o planeta presenciará toda uma vida em noventa minutos, sem muita chance de escolha. Pétalas brancas estendidas como um tapete no chão dos vencedores e um horizonte de lágrimas para os derrotados. Deus que olhe por todos, oferecendo conforto ao coração dos colombianos que se despedirem e dando forças aos brasileiros que seguirem em frente!
Francisco Dandão