Nem nos meus piores pesadelos, naqueles em que eu, quando criança, me via caindo num abismo sem fundo, e do qual acordava suando frio, cheguei a vislumbrar essa lapada que a seleção brasileira levou da Alemanha, disputando em casa uma semifinal de Copa do Mundo. Sete a um, como se a partida fosse entre profissionais (eles) e juvenis (nós).
Acho que nem eu nem o mais pessimista torcedor, apesar da notória superioridade dos germânicos, chegamos a imaginar que o Brasil levaria essa pancada. Um resultado para a eternidade, tanto para os vencedores quanto para os vencidos. O Brasil ficou numa espécie de roda de bobo, enquanto a Alemanha sobrava em campo, goleando e dando show!
Também acho que nem o mais otimista dos admiradores da Alemanha marcou esse placar em algum “bolão”. Foi uma humilhação pública, testemunhada por bilhões de atônitos olhos ao redor do planeta. Provavelmente uma tragédia de maior magnitude do que o trauma de 1950, quando o Brasil perdeu a final da Copa para o Uruguai, no Maracanã.
Atônitos e cabisbaixos, presenciamos o sonho brasileiro de chegar ao hexacampeonato ruir, ante os chutes certeiros dos jogadores alemães. A supremacia da Alemanha foi avassaladora. O Brasil foi atropelado pela Alemanha sem dó nem piedade. Mais ou menos como faria uma divisão de tanques numa batalha contra ciclistas. E tudo isso dentro da própria casa.
Muitos dirão que essa era uma derrota que vinha sendo anunciada desde sempre. Afinal, o Brasil só ganhou dos croatas com uma arbitragem bem contestada, só ganhou dos chilenos nos pênaltis, só ganhou dos colombianos depois de levar um enorme sufoco… E dirão que a goleada aplicada nos camaroneses não conta, dada a fragilidade dos africanos.
Outros dirão que essa derrota aconteceu por causa da ausência do Neymar, no estaleiro depois daquela tentativa de assassinato perpetrada pelo lateral colombiano, no jogo das quartas de final. E outros dirão ainda que os jogadores brasileiros foram traídos pelos nervos, notoriamente em frangalhos desde o início da Copa, talvez pelo fato de jogar em casa.
Penso que todos podem estar, pelo menos parcialmente, certos. Embora eu acreditasse na seleção, é certo que ela veio galgando posições meio que na marra e no “bambo” (“sorte”, no linguajar dos jogadores de sinuca). Uma hora fazendo gols “mandrakes”, outra hora sendo salva pelas traves etc. e tal. Mas levar sete gols? Isso pra mim foi mais do que demais.
Os pés dos brasileiros, enfim, foram ridicularizados como nas mais desafinadas canções de amor. E a intransitiva flor que sonhávamos colocar na lapela no dia 13 deste mês de julho murchou antes mesmo de se deixar arrancar da terra. Vai ser difícil levantar-se do chão após desse dia nefasto e limpar a bílis que escorreu das bocas após o apito final. Difícil mesmo!
Francisco Dandão