Nos anos antigos do futebol acreano, quando os quatro times considerados grandes (Rio Branco, Independência, Atlético e Juventus) dispendiam esforços ferrenhos para levar o título de campeão estadual, valia praticamente tudo para cada um conseguir o seu objetivo. Até suborno!
De acordo com o relato de personagens da época, os alvos principais eram os árbitros. Já cansei de ouvir histórias dessa natureza. Inclusive, segundo me contou o vetusto atacante/artilheiro Danilo Galo, era prática constante convidar os tais árbitros para lautos banquetes, antes dos jogos.
Mas os jogadores adversários também eram alvos corriqueiros. Nesse caso, de modo geral, os defensores (zagueiros ou goleiros) eram os mais visados pelos subornadores. Os zagueiros eram “cantados”, via de regra, para cometer pênaltis. E os goleiros, naturalmente, para deixar passar bolas fáceis.
Um recorte de jornal que me foi enviado por esses dias pelo editor Manoel Façanha conta uma dessas histórias, ocorrida em 1971, quando a decisão do campeonato acreano reuniu o Rio Branco e o Independência. O Tricolor de Aço, que havia sido campeão em 1970, queria o bicampeonato.
O Independência tinha um timaço (Chico Alab, Palheta, Aldemir, Flávio, Bebé, Bico-Bico, Escapulário…) e poderia tranquilamente ganhar do Rio Branco sem precisar de nenhum recurso extra-campo. Entretanto, supostamente alguém quis garantir que nenhum acidente pudesse acontecer.
Eis que, então, para que nada pudesse atrapalhar o título, entrou em cena um obscuro personagem denominado Luís Carlos, oferecendo um pacote de dinheiro (grana alta mesmo) para o goleiro Espanhol, do Estrelão, pular nas bolas sempre com atraso, facilitando a vida dos atacantes tricolores.
Consta que o Espanhol comunicou o fato ao presidente Lourival Marques e recebeu deste a seguinte instrução: “Receba o dinheiro, feche o gol, leve o assunto na gozação e deixe o resto conosco”. Aí a polícia entrou em campo para “grampear” o agente do suborno, o que não foi muito difícil.
Uma vez capturado, o tal Luis Carlos explicou que a diretoria do Independência não tinha nada a ver com isso, que ele agiu por conta própria, que um torcedor anônimo foi quem lhe “arranjou” o dinheiro, e que o Espanhol teria pedido a quantia para poder voltar ao seu país de origem.
O recorte do jornal não diz se houve punição pela tentativa de suborno. Mas o certo é que o Rio Branco foi o campeão de 1971, com este elenco: Espanhol, Jones, Ivo Neves, Pedro Louro, Stélio, Elden, Viana, Danilo Maia, Ely, Evandro, Lelê, Bruno Couro Velho, Fernandinho, Roberval e Grassi.