Jogaço!

Que jogaço aquele de domingo, na decisão da Super Copa do Brasil de 2021, hein? Não tenho dúvida que foi um prazer para todos os amantes do futebol bem jogado ver os dois melhores times do país na atualidade em ação, olho no olho, e buscando sempre as linhas ousadas da verticalidade.

Muitos comentaristas (tanto de botequim quanto de abalizadas bancadas) previam antes do confronto que seria um jogo muito mais de estudo do que de efetiva procura pelo reduto final do inimigo. O raciocínio era o de que nenhum dos dois seria tão louco de partir pra cima do outro.

Mas tão logo a bola rolou, no estádio da capital federal (momentaneamente ocupada por famigerados inimigos da ciência – aqueles da terra plana e dos dedos em riste, simulando armas de fogo), o que se viu foi que os comentaristas da cautela se engaram nos seus prognósticos.

O que se testemunhou foi todo mundo tentando mostrar serviço. Muita técnica, de lado a lado, e os protagonistas querendo jogar o fino, cada um mais que o outro, demonstrando o seu caso de amor com a bola, brinquedo eterno de fantasia e sonho. Deusa viajando e desenhando parábolas no ar!

Aquele primeiro gol do Rafael Veiga, por exemplo, tocando na bola de calcanhar e saindo pelo outro lado do corpo do adversário Willian Arão, mais do que um lance foi uma verdadeira obra de arte. Um quadro que bem poderia figurar ao lado de mestres da pintura em qualquer museu do mundo.

Relembre-se que o jogador do Palmeiras estava de costas para o defensor do Flamengo e ao tocar na bola e sair rapidamente deixou este sem qualquer reação. Pensamento rápido, percepção do lance, noção perfeita do espaço e do tempo. Enfim, um lance que só os grandes craques sabem fazer.

Eu, sentadinho no sofá de um nono andar num ponto qualquer do (bairro) Mucuripe, na bela Fortaleza, com um copo de vinho tinto sobre a mesinha de centro da sala, ao ver o lance protagonizado pelo Veiga não pude deixar de lembrar dois antigos virtuoses do futebol acreano: Touca e Dadão.

Touca, que pontificou nos gramados do Acre na década de 1950, costumava me dizer que o craque é aquele que antevê o lance, que já sabe o que vai fazer antes da bola lhe chegar pés. Tal e qual fez o Veiga. E o Dadão, o melhor de todos na década de 1970, este eu mesmo vi fazer coisa igual.

É isso. Tomara que venham mais jogos desse nível no futuro imediato do futebol brasileiro. As nossas retinas cansadas das tolices dos políticos e os nossos braços inertes pelo distanciamento social precisam de um tanto de magia para aliviar a nossa dor. Hediondo é o pecado de negar a vida alheia!